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crise da educação - 04/07/06 14:07 Crise da escola ou crise da educação ?

O estado da educação/escola em Portugal não é primariamente o resultado, como alguns querem fazer crer, da imposição (?), no nosso sistema, nas últimas décadas, de determinadas ideologias pedagógicas. Resulta sim do aglomerar de contradições e de orientações de sinal contrário que descaracterizam e aprisionam a escola no seio de problemas -chave que fazem com que a educação não saia do marasmo em que se encontra e seja o campo de batalha de todas as opiniões.
Primeira questão: como conciliar a aprovação generalizada (ou não “retenção”) com qualidade e exigência? É que é cada vez maior o número de alunos que muitas vezes afirmam não quererem aprender, estarem na escola porque são obrigados, que aquilo não lhes interessa para nada, etc. e em relação aos quais os professores tentam por todos os meios ensinar alguma coisa. Enquanto isto, os outros alunos, a excepção, os melhores, os que não dão problemas, os bem-educados, os que querem aprender e para os quais a escola faz sentido vão perdendo hábitos de trabalho, de rigor, de disciplina qualidades que, mais tarde, por exemplo, no ensino superior, serão acusados de não possuírem...
Creio que este problema – conciliação entre progressão para todos e qualidade de ensino - se poderá resolver com a criação de turmas de nível, em que os alunos não transitam todos para o mesmo nível de aprendizagem mas para níveis diferenciados em relação à progressão nos estudos. Por exemplo, um nível permitirá a progressão para os estudos superiores, outro, para cursos técnico-profissionais e outro, ainda, para os cursos profissionais. Evidentemente que estes níveis não seriam estanques entre si, permitindo em determinadas condições, a respectiva transição. Haverá outras maneiras?
Segunda questão estruturante: em nome da inclusão, em nome da escola para todos tudo começou a ser permitido: as normas deixaram de ser cumpridas, os regulamentos não são aplicados pois não são permitidas sanções que impliquem retenção do aluno, ou a exclusão da escola, mesmo quando esta sente que não tem condições para lidar com os problemas criados por uma minoria ínfima de alunos que estão lá para tudo menos para se “deixarem” educar. É o laxismo: Permite-se tudo aos alunos. Os professores sentem-se impotentes. A escola transforma-se num local em que tudo pode acontecer e nada é sancionado: Um professor é ameaçado fisicamente, mas no dia seguinte tem o aluno na sua aula para lhe repetir a ameaça. Deste modo vai-se minando a autoridade do professor... resta um pequeno problema: todos sabemos que sem autoridade não há educação.
Ainda em nome da inclusão, da escola para todos, a escola começou a diminuir o seu grau de exigência em relação aos saberes.
E Agora a questão: se a escola não faz com que os alunos interiorizem normas, não exige saberes, qual é a sua função?
Toda a gente tem noção deste problema mas consciente ou inconscientemente não o quer equacionar: os pais que têm disponibilidade financeira e que querem uma boa educação para os seus filhos, que desejam que eles se constituam cidadãos autónomos, conscientes, livres e críticos põem-nos no Ensino Particular - lugar onde existem normas, onde se ensina e se aprende. Veja-se que o nível de qualidade entre o ensino público e o privado aumenta a cada ano que passa.
A quem aproveita esta situação? Não estamos em nome da inclusão a aumentar o número dos excluídos? Não estamos a reforçar as diferenças de origem em nome da igualdade de oportunidades?
Enquanto não se tiver a coragem de repor a autoridade do professor, de dizer aos alunos e pais dos alunos que há normas de boa educação que têm de ser respeitadas sob pena de penalização, que os alunos não podem passar, por exemplo para o segundo ciclo, se não tiverem interiorizado o respeito pela autoridade (Pais, professores, empregados, etc.), capacidade de ouvir e executar uma ordem, teremos muito do esforço dos professores desaproveitado, teremos ainda no 12º ano professores a queixarem-se que gastam muita da sua energia, que deveria ser gasta em ensinar, a mantê-los em ordem para poderem ensinar alguma coisa.
Curioso que os professores do Ensino Superior que tradicionalmente estavam imunes a este problema venham agora estranhar a atitude com que os seus alunos se apresentam nas aulas: a de quem vai à espera de ser entretido.
Finalmente há que responsabilizar os pais pela educação dos seus filhos. Não são eles os primeiros responsáveis pela educação no dizer da Constituição da República? Mas como? Há medidas que se poderiam tomar e que, quanto a mim, teriam consequências extraordinariamente positivas.
A primeira consistiria em dar-lhes liberdade de escolher a escola para o seu filho e acabar com a hipocrisia reinante de declarações falsas de residência, cunhas, etc.
A segunda, de um outro nível, condicionaria a atribuição do abono de família a uma declaração da escola em que esta atestaria que o aluno em questão é assíduo e bem comportado.
Finalmente proíba-se (na constituição ou na lei de bases) que se intervenha no Sistema Educativo sem previamente se fazer avaliação daquilo que se quer mudar. É necessário que todos os intervenientes (alunos, pais e professores) sintam alguma estabilidade e coerência no sistema para que o posam respeitar.
Mestre em ciências da educação
Director de Centro de Formação
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