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Propostas "politicamente incorrectas"! - 31/10/06 18:10 O estado actual da Educação é, por motivos infelizes, alvo de muita discussão e polémica.
Efectivamente, as queixas de todos os agentes educativos, nomeadamente, professores, alunos, pais, auxiliares de acção educativa, são mais que muitas. Estas incidem sobre o aproveitamento, sobre a indisciplina, sobre a estrutura curricular, sobre as infra-estruturas, sobre a inclusão de alunos com Necessidades Educativas Especiais, sobre o processo de avaliação, sobre a assiduidade, etc…
Todos estes aspectos, são pilares sobre os quais devem recair a atenção pormenorizada de todos aqueles que dentro das suas funções procuram implementar um sistema educativo que contribua decisivamente para a formação de cidadãos na sua plenitude.
Esta plenitude pressupõe que os cidadãos tenham consciência dos seus direitos e deveres e simultaneamente sejam portadores das competências que lhes possibilitem ser elementos activos na construção de uma sociedade mais justa, solidária e humanizada.
Deve ser este o objectivo de toda e qualquer política educativa digna desse nome.
Para o efeito, nos últimos trinta anos muitas reformas tem sofrido o sistema educativo. Contudo, verifica-se que a prossecução desse nobre fim afigura-se presentemente cada vez mais difiícil, para não dizer utópica.
Essa situação resulta, na minha opinião, de certos pressupostos basilares em que assenta o dito sistema, perverterem os seus objectivos. Senão vejamos:
A instituição da escolaridade obrigatória até ao 9ºano( fala-se agora em estendê-la até ao 12º ano). Não ponho em causa a bondade dos fins a que se destina esta obrigatoriedade. Contesto sim, o modo como ela é aplicada, nomeadamente através de uma estrutura curricular que desmotiva e revolta muitos dos alunos. Por outro lado, nessa estruturação curricular não podemos descurar as competências que são essenciais para os alunos posteriormente conseguirem singrar no mercado de trabalho. Surge assim o problema: como conciliar os currículos, de forma a que simultaneamente estes sejam atractivos para os alunos e propiciem-lhes também as competências que os permitam integrar-se numa profissão que os realize? Os currículos alternativos têm sido um caminho adoptado para esse fim. Mas pergunto: os resultados têm sido satisfatórios? As escolas são dotadas das infra-estruturas necessárias para proporcionar uma formação efectivamente profissionalizante? Estarão a ser sensibilizadas e apoiadas de forma conveniente as empresas para neste domínio colaborarem activamente com as escolas, nomeadamente na elaboração dos currículos, na realização de estágios, na formação técnica dos professores? Sinceramente, tenho muitas dúvidas quanto a isto. Não esqueçamos que a grande maioria dos empresários ainda padece de uma grande carência de pensamento estratégico. Logo, muitos deles só se predispõem a colaborar com as escolas se, dessa colaboração, tirarem proventos imediatos. Não pensam que dessa colaboração, estão a contribuir para que no futuro, existam no mercado candidatos a profissionais mais competentes, com inevitáveis consequências positivas na qualidade dos recursos humanos das empresas. Faço referência a este aspecto, porque já fui testemunha de uma situação em que uma iniciativa lúdico-didáctica promovida por uma empresa, foi inviabilizada porque, para o efeito, teria de ser publicitado o produto que essa empresa disponibilizava. Se queremos que o sector empresarial colabore com a escola, não pode esta adoptar atitudes deste tipo face àquele.
Na sequência desta ainda desadequação da estrutura curricular e da obrigatoriedade de frequência da escola, verifica-se que muitos alunos evidenciam a sua revolta, através da indisciplina. Os professores vêem-se totalmente impotentes para lhe pôr cobro. Desde logo, as punições pedagógicas, na prática, quando são aplicadas, não são efectivamente percebidas como tal pelos alunos. Por outro lado, os entraves burocráticos à realização dos processos disciplinares são de tal ordem, que entre a ocorrência do comportamento que suscitou o processo e o momento da aplicação da “pena”, decorrem por vezes, dois, três ou quatro meses. Este aspecto, incute nos alunos prevaricadores o sentimento de que o crime compensa. E neste interregno, mantêm-se a indisciplina, a qual provoca desmotivação e frustração no professor, acarretando esse facto prejuízo para todos os alunos interessados e motivados.
Que solução então: preconizo que se acabe com a escolaridade obrigatória. O Estado têm é de facultar no ensino público, uma maior diversidade curricular, elaborada em estreita colaboração com as empresas e associações profissionais, no sentido de quem quiser, encontrar na escola um meio de realizar os seus anseios. Se assim fôr, uma das grandes causas da indisciplina estará debelada. Por outro lado, o facto de a escolaridade já não ser obrigatória, fará com que os alunos que continuem indisciplinados, sem motivo para tal, sejam efectivamente punidos, sem continuarem a prejudicar os demais. Criem-se as condições para que as comissões de protecção de jovens e crianças em risco tenham um representante em cada escola, no sentido de este actuar em tempo útil. Invista-se na criação de centros educativos concelhios que alberguem as crianças que por razões exteriores à escola, não conseguem se integrar no meio escolar.
Este aspecto da punição, remete para outra situação aberrante: o facto de as faltas dentro da escolaridade obrigatória serem só válidas para efeitos estatísticos. Que valores e consciência cívica estamos a inculcar e construir na mente dos alunos com essa medida? Faltem à vontade, que nada vos acontece, é isso?
Depois, quando chegam ao mercado de trabalho, esses alunos que viram sempre as suas faltas não terem nenhuma consequência directa, viram-se contra os seus patrões, por estes serem muito rigorosos e exigentes e nada permissivos no aspecto da assiduidade.
Prossigo, reportando-me agora à questão da avaliação. Esta assume crescentemente contornos facilitistas e laxistas. Daqui resulta inevitavelmente cidadãos mais impreparados e menos produtivos. Os critérios de avaliação têm de ser os mesmos pelos quais se regem os recrutadores no mercado de trabalho: o candidato sabe e é capaz de desempenhar as funções que o cargo a preencher exige? Se sim, é recrutado. Se não sabe ou não é capaz, não é recrutado. Os empresários não querem saber quais os motivos que levam o candidato a ter essas limitações. Querem é recrutar os mais competentes. É perfeitamente legítima esta postura, pois é o seu investimento que está em causa, o risco é dos empresários. Perante esta situação, os candidatos acabam por se revoltar contra a escola, pois esta em vez de os preparar para a selva que é o mundo laboral, enveredou por um caminho onde os contéudos programáticos foram adaptados às características do aluno, descurando-se deste modo o que ele tinha mesmo de saber fazer.
Chegados aqui, levanta-se a questão dos alunos com NEE. Estes, efectivamente dadas as suas naturais e por vezes irreversíveis limitações, têm de ter um currículo adaptado.
Não devem também ser alvo de exclusão. Logo, como promover a sua inclusão, numa turma dita normal? Simples: Apostar na criação e formação de um corpo docente devidamente habilitado para lidar com estes alunos no seio da aula. Nas turmas em que existissem alunos nesta situação, as aulas seriam ministradas por um par pedagógico, sendo que um dos elementos do par, seria um professor dessa disciplina, com formação específica na área das NEE. Deste modo, estes alunos estariam perfeitamente integrados nas turmas e simultaneamente os alunos ditos normais não veriam o seu processo de aprendizagem retardado pela atenção que um só professor inevitavelmente teria que dar aos alunos com NEE.
Posteriormente, o Estado tem a obrigação de absorver e recrutar estes alunos, quando o sector empresarial privado não o fizer.
Julgo, que a adopção efectiva de algumas destas medidas acarretará nalguns casos a curto e noutros a médio prazo, melhorias significativas e reais nos nobres objectivos a que se propõe a Educação: Formação de Plenos Cidadãos, aptos a exercerem uma efectiva cidadania, activos e produtivos na edificação de uma Sociedade digna desse nome!
Rodrigo Trancoso
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Propostas "politicamente incorrectas"!
rodrigotrancoso 31/10/06 18:10
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Maria Goreti 04/11/06 00:11