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Turmas especiais - 18/07/06 08:07 Aparentemente, o que se segue vai contra as mais consensuais normas da pedagogia corrente, que se quer inclusiva. Não constituir turmas de repetentes! Não fazer turmas só de bons/maus alunos! Não isolar deficientes em grupos à parte! Ou seja, integrar. Mas não se confunda «turmas especiais» com exclusão! Dessa confusão advêm não poucos equívocos.
Nada tenho contra a integração, mas seria bom que se não reduzissem todas as formas de actuação a este princípio. Pois que há discriminações que podem ser positivas. Mais, há discriminações necessárias para que os que socialmente são discriminados possam deixar de o ser.
Estamos pois em terrenos movediços. Não vale a pena erigir baluartes. Falarei da minha experiência.
Um dia, já lá vão mais de dez anos, apresentei ao Conselho Pedagógico da minha escola uma proposta no sentido de criar turmas especiais de 8º ano. Turmas de alunos que transitavam com défice a duas de três disciplinas consideradas básicas na formação escolar: o Português, a Matemática e a Língua Estrangeira I.
Formaram-se três turmas deste tipo, duas de Inglês e uma de Francês.
Para além dos alunos que transitavam do sétimo ano na situação de défice atrás identificada, foram integrados, em duas dessas turmas, alunos repetentes. As três turmas foram rodeadas de alguns cuidados especiais, procurando-se encontrar, em cada uma delas, o menor denominador comum de saberes, e partindo-se deles.
O balanço final mostrou que a experiência foi francamente positiva numa dessas turmas e não apresentou qualquer mais valia nas restantes. Uma variável, desde logo se evidenciou. As duas turmas, cujos resultados não ultrapassaram a expectativa baixa, eram as turmas que continham alunos repetentes, os quais, ao longo do ano, se tinham já mostrado como os principais factores de desestabilização.
Os resultados destas duas turmas foram determinantes na inviabilização da continuidade desta experiência. Mas ficou por testar a continuação em turmas com défice, mas sem repetentes. Valerá a pena voltar à carga? Para mim, faz sentido!
Aliás se se alargar o conceito, deixamos mesmo, a curto prazo, de ter turmas com repetentes, mas turmas que ministram um programa de um ciclo de x anos em x + y anos, ou seja, os alunos que concluissem um ano do ciclo com défice integrariam turmas especiais, as quais, partindo do tal menor denominador comum, leccionariam programas incompletos que se iam completando à medida que o sucesso da aprendizagem era alcançado. O ciclo adaptar-se-ia em extensão às necessidades dos alunos. Obviamente que isso exige legislação adequada.
Bem, não creio mesmo assim que isto possa ser a panaceia universal. Mas aqui, estou em crer que alunos que, neste contexto, não conseguissem progredir teriam de ser objecto de um tratamento individualizado.

Luís Ladeira
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