ruis
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Re:Escolas, Professores e Outros Profissionais - 18/06/06 15:06
Subscrevendo grande parte das afirmações do Quiron, entendo que a dificuldade em definir o perfil do Professor prende-se também com aquilo que tem sido a prática do nosso sistema educativo: é aquele indivíduo que, por dispor de um relacionamento privilegiado com grupos de alunos (turmas) é usado para por em prática um sem número de actividades, substituindo-se por vezes a outros profissionais. Vejamos por exemplo a questão da educação sexual: a dado momento, há uns anos, o Ministério da Educação, à sombra da tão aclamada transversalidade de determinados conteúdos afirmou a sexualidade como área temática que poderia ser abordado por todos os docentes no âmbito das suas disciplinas; isto num momento em que a sociedade, ou certos sectores dentro dela, entendiam que o assunto era (e é) uma lacuna nos curricula do nosso sistema educativo. Os Professores têm competência científica na área da sua formação e competência pedagógica nessa mesma área ou em parte dela. Por isso julgo que o Professor deve ser aquele que "sabe o que ensina", já que competência científica não é tudo, é necessária também a pedagógica, os docentes não estão habilitados a ensinar tudo aquilo que sabem. Aos longo dos anos o Ministério da Educação, em vez de optar por soluções realistas em relação aos objectivos pretendidos, tem lançado mão dos Professores como “pau para toda a colher” para a sua implementação. As medidas têm tido sempre como objectivo a contenção de despesas, sempre à custa do trabalho dos Professores, sem a dotação dos meios materiais necessários: revisões do sistema educativo que raramente passaram do papel, reformas de gabinete feitas por pessoas sem qualquer noção da realidade escolar do país e que redundaram em nada, para os alunos; porque para os Professores resultaram num acréscimo de burocracia, responsabilidades e de frustração, quando as medidas implementadas não resultavam. E passemos a um exemplo: em determinada altura, no 3.º ciclo, os alunos que indiciassem perigo de retenção passaram a ser alvo de um “plano de recuperação”; na prática: nas escolas onde leccionei, o Psicólogo escolar estava sempre tão assoberbado de trabalho que só podia apresentar os resultados das avaliações que lhe eram pedidas relativamente a esses alunos muito tempo depois, já fora de “tempo útil”; mesmo que propuséssemos alunos para sala de estudo a esta ou àquela disciplina na qual tinha dificuldades, já sabíamos que só haveria a Português e a Matemática, pois o Ministério não dava crédito horário suficiente às escolas para poderem abrir salas de estudos a mais disciplinas; além disto, muitas turmas de aproveitamento fraco têm o mesmo número de alunos que turmas com aproveitamento normal ou elevado, isto é dizer, de 26 a 28 alunos. Perante este panorama, vemos que a expressão “contenção de custos” tem tido primazia sobre a expressão “qualidade da educação”. Não pretendo com isto dizer que os Professores se devam limitar ao exercício de actividades para as quais têm formação pedagógico-científica; considero sim que a formação que tem sido levada a cabo pelos docentes tem de ser levada a sério e esses docentes devem usar de facto a formação que obtiveram e que obtiverem; só que para fazer isso é preciso investir nas escolas, melhorando as infra-estruturas, pagando a um maior número de profissionais, docentes e outros, para desempenharem as novas funções exigidas a uma escola adequada à sociedade dos nossos dias e que responda às crescentes solicitações que lhe são feitas. Por outro lado, a formação a realizar pelos docentes tem de ser adequada às necessidades das escolas e das actividades que as mesmas necessitam de implementar. Muita dessa formação ultrapassa o âmbito científico fornecido pelas Escolas Superiores de Educação e outros estabelecimentos do ensino superior, distantes da realidade vivida nos estabelecimentos dos ensinos básico e secundário, e que têm feito pressão para chamar a si as tarefas que têm sido realizadas pelos Centros de Formação. De facto, as Escolas Superiores de Educação sofrem, tal como os outros níveis de ensino, dos efeitos da redução da natalidade e do excesso de licenciados nos cursos que ministram, o que faz “minguar” o número de alunos nas turmas… Agora, resta saber se, quando se fala em interesses corporativos no ensino, se está a excluir o ensino superior. Repito, é preciso investir, e não anunciar aos sete ventos mudanças, apontar culpados, incendiar consciências, nomear novos protagonistas… e continuar a “usar” a prata da casa num programa de mudanças do foro administrativo e da gestão de recursos que não vão permitir atingir os belos objectivos falados. A mudança tem de ter um carácter global e sistemático.
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