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Re:Professores e encarregados de educação - 11/06/06 18:06
Os pais e a escola Responsabilidade partilhada. Um testemunho.
A experiência que realizámos recentemente (2001-03) permite-nos testemunhar com conhecimento de causa o papel altamente positivo da partilha de responsabilidades da Escola e da Família na educação dos filhos. Cremos firmemente que é possível vencer o atraso educacional do povo português mobilizando-o na criação de uma sociedade verdadeiramente educativa, integrando a família na vida da Escola e, designadamente, colaborando na sala de aula. Começámos por fazer formação de pais, de modo a implicá-los no apoio ao ensino da aritmética às crianças do 1º ano do Ensino Básico. Formação que não tratava de ensinar aritmética mas, sim, de pô-los em contacto com uma didáctica apropriada e os materiais indispensáveis a um bom ensino da contagem e das quatro operações.
FIG.1 OS FAMILIARES REPETEM AS ACÇÕES A ENSINAR À CRIANÇA
A confecção dos materiais contribuía para uma melhor compreensão dos métodos e técnicas a utilizar e foi participada com verdadeiro entusiasmo, e concorreu para uma melhor compreensão das actividades e trabalhos do professor fora da sala de aula.
FIG.2 OS FAMILIARES CONSTROEM O MATERIAL
A acção conjunta de pais e professores na sala-de-aula levanta problemas de relacionamento muito delicados. O estabelecimento de uma partilha adequada de responsabilidades, numa atmosfera de saudável respeito mútuo, em que ambas as partes reconhecem o contributo positivo da outra e aceitam os seus limites, é de solução difícil. Na sala de aula, o professor é o profissional, «o professor é aquele que ensina» (B. Paiva Campos, Políticas de Formação de profissionais de ensino em escolas autónomas.) e cabe aos pais colaborar conforme as necessidades e orientações previamente discutidas e acertadas. Entram aqui em jogo aspectos psicológicos importantes, quer pelo receio, por parte dos professores, de a presença dos pais arrastar uma perda de prestígio, um sentimento de insegurança, o medo de cometer erros, o receio, quiçá justificado, de interferências inoportunas nas estratégias ou nas práticas do ensino e, principalmente, na perda de um estatuto de poder tradicionalmente detido pelo professor na sala de aula. Com base na minha experiência pessoal, o relacionamento e comportamento dos pais nas acções de formação, confecção de materiais didácticos e na sala de aula foi sempre excelente. É interessante, a este respeito, citar o caso inglês, em que o papel dos pais é geralmente remetido para tarefas exteriores: eventos sociais, colecta de fundos, escolha da escola preferida. Porém, já em 1969, em declarações à BBC, um professor afirmava: «Não julgo que qualquer sistema de educação, que tenha real necessidade da cooperação e da solidariedade dos pais, possa funcionar sem que os pais estejam presentes na sala de aula e trabalhem ao lado dos mestres e dos alunos» (W. D. Wall, L’éducation constructive des enfants, Unesco, p.140). Penso que a estratégia que seguimos foi muito adequada, pois não se levantou com os pais o mínimo problema de relacionamento e as avaliações recolhidas foram muito positivas.
FIG.3 ACÇÇÃO CONJUNTA NA SALA DE AULA.UM PAI ACONPANHA AS CRIANÇAS QUE LHE ESTÃO DISTRIBUÍDAS
FIG.4 O APOIO DOS PAIS É SEMPRE BEM RECEBIDO
Se o Estado representa, supostamente, uma vontade geral, a vontade dos pais, legítimos e primeiros detentores do direito e do dever de educar os filhos, deve ser preferencialmente tomada em consideração. De facto, este direito primacial remete o Estado para uma posição subsidiária, imposta pela «insuficiência psicológica, pedagógica e moral da família» (Cassiano Reimão, in A educação em debate, p. 147). A par desta função maior, as obrigações educativas dos pais (extensivas a outros familiares), alargam-se ao acompanhamento do ensino ministrado na Escola, tanto no lar como na própria sala de aula, em responsabilidade partilhada com os professores. Estas exigências acrescidas reclamam da parte dos pais e dos professores um esforço de adaptação e mudança que os capacite para novos desempenhos. A definição e limites desta colaboração têm sido progressivamente definidas e experimentadas, designadamente na Dinamarca, mas também, de forma isolada, entre nós. Este conceito tem vindo a afirmar-se e a depurar-se progressivamente na Europa desde a década de sessenta. Sem pormenorizar a sua evolução, as novas configurações do poder na realidade escolar tendem a considerar os pais com direitos, responsabilidades e interesses na educação, defendendo que o Estado e as Escolas públicas e privadas, como prestadores de um serviço, devem ajustar as suas acções ao interesse social e às exigências da função parental, os primeiros responsáveis pela educação dos filhos. Estas ideias, que fazem curso na Inglaterra, Estados Unidos, e países escandinavos, entre outros, levaram , na Dinamarca, à constituição de uma Associação Dinamarquesa de Pais, com voz oficial nas decisões tomadas em educação. Entre nós, preencheria esta função um Conselho Consultivo de Educação, criado a partir das Associações de Pais, a uma única voz, em pé de igualdade com as instituições governamentais, na definição das políticas educativas. Começando pelo 1º Ciclo do Ensino Básico, em que as crianças tem necessidade de um apoio constante, e é muito difícil o professor dar-lhes uma atenção individualizada, há fortes razões que favorecem o modelo de acção conjunta. A acção dos pais na sala de aula, distribuindo e recolhendo o material, acompanhando a actividade da criança, ajudando-a a corrigir os seus erros, mantendo uma avaliação geral e permanentemente actualizada, permite um reforço da aprendizagem no lar e contribui para um conhecimento mais aprofundado da criança por parte dos pais e dos professores, além de satisfazer necessidades psico-afectivas do seu desenvolvimento. Esta colaboração é completada pela troca de impressões entre os pais e os professores, analisando os progressos, as dificuldades e sua remediação. A experiência que levámos a cabo, como já dissemos, recolheu uma avaliação muito positiva da parte dos pais.
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