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Escolas, Professores e Outros Profissionais - 17/06/06 14:06
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Toda a gente cita, a propósito de quase tudo, a frase de Tomasi di Lampedusa: «é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma». Geralmente atribuem a frase à personagem principal d'O Leopardo, o Príncipe de Salina, quando a personagem que a profere é o sobrinho deste, Tancredo - que com ela granjeia a desconfiança e a incompreensão da aristocracia decadente e bronca que o rodeia mas obtem o respeito, se não mesmo a admiração, do tio.
É nesta frase que eu tenho pensado mais perante as medidas já tomadas e anunciadas pela Senhora Ministra da Educação. Quem se propuser mudar alguma coisa na educação para tudo ficar na mesma, tem muito por onde fazê-lo.
Os problemas enumerados pelo discurso oficial são problemas reais, não são inventados: há professores bons, maus e péssimos, e não se faz distinção entre eles; a gestão das escolas é corporativa; não se trabalha por objectivos definidos; não se responsabilizam os alunos, nem os pais, nem, suficientemente, os professores; não se definem nem se aferem objectivos, e portanto ou não há avaliação, ou a que há é arbitrária.
Do mesmo modo poderíamos enumerar muitos outros problemas, que como estes são reais e como estes acessórios, a que o discurso oficial tende a não se referir, et pour cause. Também eu me dispenso de os referir aqui, até porque toda a gente sabe quais são.
Resolver estes problemas - mesmo admitindo que todos eles são passíveis de solução cabal - terá como consequência principal, (para lá dum pequeníssimo efeito paliativo e do efeito positivo no marketing político do governo) não só a manutenção, como o agravamento dos vícios essenciais no sistema. E nestes a Senhora Ministra não quer tocar, como não quiseram ou não puderam tocar os seus antecessores.
São dois, só dois, os vícios essenciais do sistema:uma filosofia educativa oficial que roça o charlatanismo; e a tentação sempre presente de os governos se servirem das estruturas educativas para a prossecução de políticas públicas que são muitas vezes meritórias e necessárias, mas não são educativas.
Daqui resulta que eu, professor de inglês e alemão, sou solicitado a convencer os portugueses a não fumarem, a não conduzirem em excesso de velocidade, a respeitarem a polícia, a manifestarem-se contra o racismo, a protestarem contra as centrais nucleares, a comerem mais verduras, etc.
Como cidadão, estou pronto a ajudar em todos esses esforços, ou pelo menos naqueles com os quais concordo. Como professor preferia, francamente, que me deixassem fazer aquilo que sei e de que gosto, que é ensinar inglês e alemão.
O que nos traz à questão de saber o que é um bom professor. É aquele que sabe o que ensina e ensina o que sabe? Ou é aquele que se desdobra em «actividades» cujos objectivos nao são definidos nem definíveis, cujos resultados não são observáveis, e que não podem portanto ser avaliadas a não ser pelo tempo que com elas se gasta (ou perde)?
É bom que pensemos nisto quando falamos em avaliar os professores. E já agora é bom que tornemos a pensar quando chegar o momento de avaliar a Senhora Ministra.
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