James
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Re:Escolas, Professores e Outros Profissionais - 20/10/06 21:10
Os americanos têm um ditado segundo o qual "É necessária uma aldeia para educar uma criança" (It takes a village to raise a child). Este vem-me à memória frequentemente quando penso no abandono e no insucesso escolares. Grande parte do insucesso escolar é certamente devida a sucessivas más politicas educativas (escritas em eduquês) que já foram devidamente denunciadas por Nuno Crato e outros. Mas outra parte desse insucesso e abandono deve-se ao facto de outros sectores da sociedade não funcionarem como deveriam. Como é possível ter sucesso quando os alunos, menores, frequentam discotecas e consomem bebidas alcoólicas e outras drogas, sem que as autoridades apliquem as leis? Ou que entrem à vontade em salas de cinema para verem filmes proibidos para a sua idade? Ou que trabalhem? Ou quando há alunos vítimas de maus tratos de todo o tipo, sem que os organismos que deveriam atender a esses casos, o façam? Ou que estão em lista de espera para consultas de psicologia em hospitais públicos? Há tempos li algures que os maus resultados do ensino nos deveriam envergonhar como professores. Ora a mim envergonham-me, antes de tudo, como cidadão. Sou professor há mais de vinte anos e tenho deparado com inúmeros casos em que não é a escola nem as famílias que falham, mas sim outros sectores. O sucesso escolar não está só dependente do M Educação. Ele depende de quase todos os outros Ministérios: Adm Interna, Emprego, Economia, etc. Li que alguém está a pensar utilizar os valores do abandono escolar para avaliar os professores. Ora tal medida parece-me de uma enorme crueldade e estupidez, dadas as condições económicas da população, e sendo a vida como é: que culpa tem um professor que a família de um aluno decida emigrar para ganhar a vida, ou que o aluno vá trabalhar? No limite, imaginem uma cidade em plena guerra civil. Com as paredes crivadas de balas e os vidros estilhaçados, o abandono escolar seria de cem por cento. Imaginem agora que o M da Educação local se lembrava de responsabilizar os professores e de lhes pedir que arranjassem estratégias de combate ao dito... Quanto às causas intrínsecas, subscrevo tudo o que diz Nuno Crato e alguns intervenientes deste debate.
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custodia
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Re:Escolas, Professores e Outros Profissionais - 03/11/06 20:11
Então Boa noite, para quem estiver, ainda, interessada/o em debater a Educação.
Decidi falar-vos um pouco sobre este tema que, espero possa vir a ter algum reflexo nos pareceres que Conselho Nacional de Educação emite sobre os diversos temas que lhes são solicitados. O último que li, que foi sobre a Avaliação das Escolas, e que nos trouxe não só o parecer dessa instituição (ou deverei dizer Organismo público?) como também um pouco de história da avaliação das escolas em Portugal. Se por um lado me decepcionao facto de muitos dos meus colegas não o conhecerem, por outro lado também os compreendo, porque cada vez se exige mais, mas não se dá espaço para a leitura, a pesquisa, não se desperta o interesse por novas investigações ou experências na área do ensino. Deixem-me dizer que concordo plenamente com o facto dos professores estarem 35 horas na Escola, mas por favor, não lhes peçam que façam substituições. Não podemos "dar aulas" mais do que 5 ou 6 horas lectivas diárias! Não há condições psicológicas nem humanas, para estar com alguns dos nossos jovens mais tempo, seguido!
Vamos pedir aos docentes que fiquem 35 horas nas escolas, mas para preparar aulas, para articular com os colegas do mesmo departamento, para homogeneizar o modo de transmitir conhecimentos, para ajudar os docentes mais novos, com menos experiência ... Vamos exigir que se façam os PC de turma, os P C de Escola! Mas vamos pensar em como podemos ajudar quem não os souber operacionalizar. Vamos colocar mais docentes na IGE ou nas DRE´s com competências para averiguar, mas também para AJUDAR! E para voltar "lá", e ver o que se alterou, se mudarm as estratégias! Se queremos mudar para MELHOR, então vamos pensar MELHOR!
Outra situação que me preocupa muito são os órgãos de gestão das escolas, que 7 anos após a saída do Dec-Lei 115-A/98, continuar a elabora Reg. Internos, segundo legislação anterior ...
Não conhecem a legislação que veio trazer uma organização diferente ao Conselho Pedagógico!Não conseguem operacionalizar as estruturas de orientação educativa! Alguns nem a conhecem!
Não estamos de modo algum em condições de assinar contratos de autonomia. Temos de perceber o que sabem e o que fazem os órgãos de gestão.
Claro que há excepções, mas a generalidade não abona nada em nosso favor! Vamos primeiro profissionalizar os órgãos de gestão! Demiti-los (porque não?) se não corresponderem às expectativas, mas vamos apenas exigir aos docentes que exerçam a sua profissão, com profissionalismo e para isso temos de lhes dar condições. Não podemos desmotivar aqueles que ainda têm alguma motivação, porque aqueles que nunca a tiveram, já estavam perdidos antes. Vamos fazer alguma coisa por quem gosta e se dedica a esta causa que é a EDUCAÇÃO!
Voltarei... talvez, com a gestão ou com o estatuto do aluno, a indisciplina.... Veremos...
Por hoje ficamos por aqui.
Maria Custodia
Mas também percebo que anda tudo muito
Quiron escreveu: Esta árvore discute o conteúdo do artigo: Escolas, Professores e Outros Profissionais
Toda a gente cita, a propósito de quase tudo, a frase de Tomasi di Lampedusa: «é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma». Geralmente atribuem a frase à personagem principal d'O Leopardo, o Príncipe de Salina, quando a personagem que a profere é o sobrinho deste, Tancredo - que com ela granjeia a desconfiança e a incompreensão da aristocracia decadente e bronca que o rodeia mas obtem o respeito, se não mesmo a admiração, do tio.
É nesta frase que eu tenho pensado mais perante as medidas já tomadas e anunciadas pela Senhora Ministra da Educação. Quem se propuser mudar alguma coisa na educação para tudo ficar na mesma, tem muito por onde fazê-lo.
Os problemas enumerados pelo discurso oficial são problemas reais, não são inventados: há professores bons, maus e péssimos, e não se faz distinção entre eles; a gestão das escolas é corporativa; não se trabalha por objectivos definidos; não se responsabilizam os alunos, nem os pais, nem, suficientemente, os professores; não se definem nem se aferem objectivos, e portanto ou não há avaliação, ou a que há é arbitrária.
Do mesmo modo poderíamos enumerar muitos outros problemas, que como estes são reais e como estes acessórios, a que o discurso oficial tende a não se referir, et pour cause. Também eu me dispenso de os referir aqui, até porque toda a gente sabe quais são.
Resolver estes problemas - mesmo admitindo que todos eles são passíveis de solução cabal - terá como consequência principal, (para lá dum pequeníssimo efeito paliativo e do efeito positivo no marketing político do governo) não só a manutenção, como o agravamento dos vícios essenciais no sistema. E nestes a Senhora Ministra não quer tocar, como não quiseram ou não puderam tocar os seus antecessores.
São dois, só dois, os vícios essenciais do sistema:uma filosofia educativa oficial que roça o charlatanismo; e a tentação sempre presente de os governos se servirem das estruturas educativas para a prossecução de políticas públicas que são muitas vezes meritórias e necessárias, mas não são educativas.
Daqui resulta que eu, professor de inglês e alemão, sou solicitado a convencer os portugueses a não fumarem, a não conduzirem em excesso de velocidade, a respeitarem a polícia, a manifestarem-se contra o racismo, a protestarem contra as centrais nucleares, a comerem mais verduras, etc.
Como cidadão, estou pronto a ajudar em todos esses esforços, ou pelo menos naqueles com os quais concordo. Como professor preferia, francamente, que me deixassem fazer aquilo que sei e de que gosto, que é ensinar inglês e alemão.
O que nos traz à questão de saber o que é um bom professor. É aquele que sabe o que ensina e ensina o que sabe? Ou é aquele que se desdobra em «actividades» cujos objectivos nao são definidos nem definíveis, cujos resultados não são observáveis, e que não podem portanto ser avaliadas a não ser pelo tempo que com elas se gasta (ou perde)?
É bom que pensemos nisto quando falamos em avaliar os professores. E já agora é bom que tornemos a pensar quando chegar o momento de avaliar a Senhora Ministra.
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Rita Tavares
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Re:Escolas, Professores e Outros Profissionais - 25/11/06 10:11
(Às vezes tenho “saudades” da monarquia: pelo menos os reis tinham conselheiros, para não cometerem injustiças e atrocidades!) Terá o CNE sido chamado para emitir algum parecer sobre o novo Estatuto da Carreira Docente? Onde estão estutos que fundamentem as opções do governo? Por muito respeito que possa ter pelos nossos governantes, há coisas que me deixam estupefacta. Como podem defender, por exemplo, que o apoio à família seja dar mais horas às educadoras para que elas estejam com os meninos, quando qualquer país civilizado dá a opção à família para ficar mais tempo com os filhos? Como poderão os professores partilhar e trocar experiências sabendo que vão ser avaliados e que, aqueles a quem cederam o seu material, lhes poderão passar à frente? A partir de agora será “Cada um por si e Deus por todos”. Mas nem é isso o que mais me preocupa, pois não está no meu horizonte próximo… Não sou contra a escola a tempo inteiro mas não percebo porque têm os professores do 1º ciclo que ficar nas escolas a fazer os trabalhos de casa (ou outros) com a sua turma. Ainda se fosse dar apoio a um pequeno grupo … mas à turma inteira? Qual será a diferença entre componente lectiva e não lectiva? Onde estão os animadores culturais? Não há dinheiro para a educação? Os professores sempre ensinaram dentro das 25 horas semanais com algum esforço, porque têm agora de ser castigados, trabalhando mais horas? Não saberão os nossos governantes que os professores têm as mais altas taxas de doenças do foro nervoso/psiquiátrico??? Não saberão que a maior parte dos professores é obrigado a percorrer grandes distâncias e que, com as novas exigências, passa quase 11 horas longe de casa? Isto é humano? Como estou a tentar sintetizar, passo adiante. Como podem os nossos governantes defender que a componente não lectiva surja misturada com a componente lectiva? Não saberão eles que após o intervalo da tarde, depois de passarem o dia em actividades, os alunos estão cansados e já não vão ter rendimento nenhum na componente lectiva? Porque não investigaram o que se passa nos outros países que já têm a escola a tempo inteiro há mais tempo? E se já existiam Centros de ATL não era mais fácil financiar as crianças necessitadas para que também elas acedessem aos referidos centros? Ou então… enfim, não vale a pena levantar hipóteses, ninguém pediu a minha colaboração.
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artur
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Re:Escolas, Professores e Outros Profissionais - 05/12/06 18:12
AVISO À COMUNIDADE EDUCATIVA Embrutecimento, educação e outras reflexões
O SUCESSO
Num tempo em que todos nós, professores, andamos naturalmente preocupados com as nossas carreiras, e em que uma série de direitos que pareciam certos são postos em causa, muitos deles de forma abusiva (para não dizer antidemocrática), parece ter ficado para segundo plano aquilo que me parece ser fundamental, ou seja, procurar estratégias e soluções para os problemas de que a nossa sociedade, de uma maneira geral, e a escola em particular, enfermam. Claro está que o Ministério da Educação quer fazer passar a ideia de que tudo isto está a ser feito em prol do sucesso. Gostava de entender a que sucesso se refere o Ministério e que verdadeiras medidas pedagógicas estão a ser implementadas pelos iluminados Senhores. Que eu me tenha apercebido, a única medida de carácter pedagógico emanada nos últimos tempos, não vai para além das aulas de substituição que, mesmo não sendo uma ideia nova, foi imposta de forma atabalhoada e, pelos vistos, a necessitar já de reformulações (imagine-se). Ora, na minha modesta opinião, um dos grandes problemas da escola actual não está tanto relacionado com a estrutura da carreira dos professores, mas mais com o currículo, as metodologias pedagógicas e com a forma como a escola /instituição está organizada. Neste sentido, penso que a maior preocupação do Ministério não deveria ter sido transformar-nos em “bodes expiatórios” ou nos principais responsáveis pelos problemas actualmente existentes na escola, mas antes rodear-se do conhecimento produzido por inúmeros investigadores nacionais e, porque não, internacionais, procurando soluções pedagógicas e de organização institucional adaptadas à realidade do nosso país, deixando para trás aquele olhar estúpido e encantado com o sucesso dos nórdicos que dificilmente pode ser adequado à nossa realidade. Compreendo as preocupações ministeriais de querer fazer transparecer a ideia de que se está a operar uma revolução no sistema de ensino - a curto prazo dá votos e ilude a opinião pública de que o caminho trilhado é fundamental. Quem não gosta de ver os lobbies instalados postos em causa? Claro está… desde que não seja o nosso lobbie. No entanto, o que em breve vamos concluir, quase de certeza, é que o almejado sucesso não vai acontecer e lentamente tudo há-de voltar à normalidade (falsa normalidade) sem que nada de fundamental tenha mudado realmente. Neste contexto sinto-me como Carl Solomon num poema de Allen Ginsberg:
(…)“Estou contigo no manicómio de Rockland onde és mais louco do que eu Estou contigo no manicómio de Rockland onde deves sentir-te muito estranho” (…)
DERRUBAR PAREDES
É mais que sabido, e sobretudo, sentido e vivenciado, por qualquer professor que efectivamente “dê aulas” que algo vai mal com a escola. Todos os dias (sem excepção) nos damos conta da falta de empenho e desinteresse dos alunos pelo conhecimento veiculado pela escola. Interessa assim, antes de mais, reflectir se o problema é dos alunos, se é dos professores, se de uma forma mais abrangente é da sociedade ou se é da escola como instituição. Qualquer um também poderá facilmente concluir que o problema está em cada uma destas partes que por sinal são inseparáveis, mas que se encontram neste momento particularmente desorganizadas como se de um puzzle em início de construção se tratasse. Daqui talvez possamos inferir que para que as coisas possam funcionar é necessário levar a cabo reformas estruturais que só terão resultados a médio/longo prazo e que as medidas fundamentais a realizar, no que à escola diz respeito, estão na sua reorganização interna e na implementação de estratégias pedagógicas adequadas à sociedade presente e futura. Para isso, parafraseando OLGA POMBO, é necessário que literalmente se “derrubem paredes”: • A nossa escola não pode mais estar estruturalmente organizada em torno do cubículo, por sinal bastante oprimente da sala de aula – temos que sair para a rua com os nossos alunos e colocá-los em interacção com o meio, ou seja, partir da realidade para os contextos estruturantes do saber; • As metodologias de ensino e principalmente os currículos têm que ser adaptados às necessidades da sociedade actual e dos diferentes alunos que temos actualmente na escola – nem todos os alunos têm que adquirir conhecimentos que apenas são exigidos aos alunos que querem ir para a universidade; • A escola como organização moderna que deveria ser, terá que se agilizar e deixar de ser o monstro burocrático que é actualmente, passando muito deste processo de agilização pela autonomia das mesmas. Uma escola do Porto ou de Lisboa é necessariamente diferente de uma escola do Peso da Régua, daí que uniformizar é nivelar por baixo; • Compreender que o conhecimento não é um formato específico que serve a qualquer pessoa. Diferentes públicos correspondem a diferentes necessidades a que a escola terá que dar resposta. Em suma e citando o físico russo, Lev Landau “Quanto menos informações inúteis colocarmos na cabeça dos nossos alunos, mais espaço sobrará para as grandes ideias”; • O lugar do conhecimento não pode mais estar única e exclusivamente na cabeça dos professores ou dos manuais que estruturam o estudo dos alunos. No nosso tempo o problema não é o acesso ao conhecimento, mas antes saber o que fazer com ele. • O processo tecnológico é irreversível e não pode mais ser um acessório no processo de ensino/aprendizagem, mas antes, passar a fazer naturalmente parte integrante do mesmo.
Perguntar-se-ão como se operam estas mudanças essenciais? Eu direi: com o empenho de todos, sendo livres-pensadores e abertos à mudança. Sobretudo, com governantes que não olhem para a agenda política e compreendam definitivamente que todas as transformações necessitam de tempo e devem ser aplicadas de forma segura e gradual. Seria interessante começar pelo início, ou seja, pelos primeiros anos de ensino e gradualmente alargá-las aos anos de ensino mais avançados; Seria necessário que existissem no ministério menos políticos e mais investigadores nacionais (e porque não internacionais) de reconhecidos méritos, transferindo o conhecimento das prateleiras bolorentas das faculdades e colocando esse conhecimento ao serviço da sociedade. Quando falo de investigadores no ministério, não me refiro apenas a pedagogos, mas também a sociólogos, psicólogos, antropólogos, filósofos, economistas, etc.
O CONHECIMENTO SÓ EXITE VERDADEIRAMENTE QUANDO É PARTILHADO
Diz-se muitas vezes, e com razão, que a maior parte do conhecimento produzido pelas universidades é pouco mais que, vão desculpar-me o termo, “masturbação intelectual” encerrada em grossos “calhamaços” a amarelecer as suas esforçadas páginas nos arquivos das diferentes faculdades. Por ser muitas vezes verdade, por o autor deste texto não se rever minimamente nesse processo e por tudo que tem sido dito até agora, trago para aqui, para a ordem pública, algumas questões levantadas por um estudo realizado recentemente. Não que o autor tenha vontade de se promover, como talvez alguns possam pensar, mas porque acredita que o conhecimento só faz realmente sentido quando é partilhado com um alargado número de pessoas.
MENTALIDADE COLECTIVA As aptidões básicas requeridas pelos novos empregos na sociedade do conhecimento estão já sobejamente identificadas. São elas a capacidade de abstracção, o pensamento sistémico, a experimentação (saber fazer) e a colaboração. Ora a escola dos nossos dias, como é sabido, ainda não está a preparar os seus alunos para este desafio. E o que é interessante ver é que dentro da própria escola já é notório esse desconforto, que se traduz nos constantes maus resultados obtidos por muitos alunos. A maior parte das vezes, e numa análise escandalosamente superficial, acaba por se imputar as culpas aos próprios alunos, aos professores e à família. Não deixando isto de ser verdade, o problema maior é como vimos outro, e bem mais pertinente como ponto de partida para uma reflexão séria, que é o problema estar na própria escola como instituição e naquilo que nos vamos atrever a chamar de “mentalidade colectiva”. Como disse EDGAR MORIN, “Não se pode reformar a instituição sem ter previamente reformado os espíritos, mas não se pode reformar os espíritos se previamente não se reformarem as instituições”. É precisamente neste impasse que estamos actualmente. A instituição escola é uma máquina pesada muito difícil de manobrar e onde cada centímetro de deslocação é conquistado a par e passo. Ora o nosso tempo não se compadece com a lentidão, é antes um tempo marcado pela velocidade, que agora já não se baseia na mecânica ou no motor de combustão, mas na informação e no conhecimento. As sucessivas mudanças em todas as áreas da sociedade, acarreta dificuldades de acomodação/adaptação, ou pode mesmo excluir todos aqueles que não estejam munidos das ferramentas próprias que lhes permitam “sobreviver” no seu veloz desenrolar. Por isso a escola, sendo ainda uma instituição estruturante na formação dos indivíduos, terá que se adaptar rapidamente ao novo paradigma, agilizando-se como instituição e tornando-se numa escola que aprende, para usar as palavras de PETER SENGE. A escola do futuro só vai continuar a existir se contribuir realmente para a preparação dos indivíduos para a vida activa de uma forma multidimensional, ou seja, desenvolvendo integralmente o indivíduo. Para isso antes das pedagogias e mesmo antes das tecnologias, precisamos de uma instituição, versátil, criativa e pró-activa onde todos os seus actores sejam uma peça fundamental na engrenagem. O que vemos actualmente é uma engrenagem pouco oleada que fornece aos seus clientes um produto fora de validade. O ensino não pode mais basear-se na figura central do professor, como transmissor quase exclusivo do saber e a avaliação dos alunos não pode mais basear-se quase exclusivamente em dados quantificáveis. É claro que é necessário saber matemática, saber Português ou Inglês, mas porque será que os alunos têm tantas dificuldades? Serão os alunos de hoje menos inteligentes que os do passado? Claro que não.
A ESCOLA CONSTRUTIVISTA E ROMÂNTICA
O agora muito conhecido investigador NUNO CRATO, veio explicar-nos a todos nós que as ideias construtivistas e românticas (imagine-se) têm contribuído para o total falhanço educativo que está a formar uma imensa quantidade de analfabetos. Apesar de, no seu livro, realmente existirem muitos aspectos com que concordo plenamente, não posso concordar com a ideia de que a pedagogia construtivista é a responsável por todos os males do ensino. Se o investigador em causa tivesse leccionado numa escola regular do ensino básico ou secundário iria facilmente perceber que as nossas escolas de construtivista não têm nada, bem pelo contrário, salvo uma ou outra experiência esporádica, estão bem arreigadas na visão secular do ensino. Como pode algo que nunca existiu, pelo menos de forma sistemática, ser culpado do que quer que seja? O investigador defende ainda que a escola não deve estar aberta a soluções pedagógicas milagrosas e que o melhor é aproveitar o que de bom já existe e fazer uma adequação gradual às novas realidades. Não poderia concordar mais com o autor. Realmente nem as soluções milagrosas existem, nem a sociedade está preparada para mudanças bruscas.
A TECNOLOGIA E A ESCOLA No contexto, do que dissemos no ponto anterior, pensamos que as novas tecnologias, não querendo ser milagrosas, podem dar uma ajuda e contribuir em boa parte para novas práticas pedagógicas mais adequadas à realidade contemporânea. Claro que ainda existe um longo caminho a percorrer, sobretudo no que diz respeito às metodologias mais adequadas ao seu uso e ao desenvolvimento de plataformas de ensino mais robustas. Há também um longo caminho a percorrer na verdadeira disseminação das tecnologias pela escola e pela sociedade. Mas o desafio maior é, com certeza, transformar a tecnologia numa ferramenta realmente activa no processo de ensino/aprendizagem e contribuir para que esta deixe de ser entendida como um “brinquedo” ou apenas uma “experiência” e se torne numa ferramenta tão vulgar como o quadro negro. Ou seja, que a tecnologia seja uma verdadeira extensão do homem e que a usemos não fascinados por ela em si, mas pelas potencialidades educativas que fornece.
A INTERDISCIPLINARIDADE
Todos os dias vimos os nossos alunos perdidos, e diria mesmo angustiados (não estou a falar dos alunos despreocupados, estou a falar daqueles que se interessam) com as exigências propostas por cada professor no fabuloso universo curricular constituído por cerca de treze disciplinas. Cada professor tem as suas exigências (naturais) e percorre o ano lectivo sem que uma vez se tenha interrogado nas relações possíveis da sua disciplina com as restantes. Ora interroguemo-nos como pode isto ser possível, como podemos querer que os alunos se deixem fascinar pelo conhecimento. Como podemos querer que os alunos fiquem preparados para usar esse conhecimento na sua natural interacção com a realidade. Como poderão os alunos estar preparados para resolver problemas concretos. Que conhecimentos utilizáveis eles têm realmente – eu diria que muito poucos. A cada passo surgem artigos de opinião e estudos que provam que os alunos saem da faculdade sem que estejam preparados para trabalhar. Eu próprio conheço casos concretos de gente “bem formada” que me diz - não sei para que tive de estudar estes anos todos, tive que reaprender tudo de novo lá na empresa onde trabalho. Sem querer aqui aprofundar esta questão que nos levaria muito longe, fica no ar este ponto de partida, que reflectirei mais em profundidade no próximo número do jornal Perspectiva.
Para terminar este já longo artigo, vamos recorrer às palavras de EDGAR MORIN, que tão bem definem parte da missão da escola e sobretudo dos docentes na sociedade de hoje: • Fornecer uma cultura que permita distinguir, contextualizar e globalizar; • Preparar os espíritos para responder aos desafios que coloca, à condição humana, a complexidade crescente dos problemas; • Preparar espíritos a enfrentar as incertezas que não param de crescer, não só fazendo-lhes descobrir a história incerta e aleatória do Universo, da vida, da humanidade, mas favorecendo neles a inteligência estratégica e a aposta num mundo melhor; • Educar para a compreensão humana entre próximos e afastados; • Ensinar a afiliação ao país, à sua história, à sua cultura, à cidadania republicana, e introduzir a afiliação à Europa; • Ensinar a cidadania terrestre, ensinando a humanidade na sua unidade antropológica e as suas diversidade individuais e culturais.
ALGUMAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTELLS, Manuel (2002), A sociedade em rede, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. Vol.I CASTELLS, Manuel (2004), A Galáxia Internet, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. CRATO, Nuno (2006), O ‘Eduquês’ em discurso directo, Lisboa, Gradiva. MORIN, Edgar (2002), Reformar o Pensamento, A Cabeça Bem Feita, Lisboa, Instituto Piaget. POMBO, Olga (2004), Interdisciplinaridade: Ambições e limites, Lisboa, Relógio d’Água Editores. SENGE, Peter et al (2005), Escolas que aprendem, Porto Alegre, Editora Artmed
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jogsilva13
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Re:Escolas, Professores e Outros Profissionais - 16/12/06 22:12
Já que estamos a mexer, não deixemos fugir a oportunidade - mudemos o que mais importa. 12 anos de escolaridade obrigatória ou estar na escola até (pelo menos) os 18 anos. No final, ou certificado de aproveitamento, ou de frequência, mas todos ficam com a escolaridade obrigatória concluída. Dos 12, 6 anos de escolaridade básica, que todos devem concluir com aproveitamento (sem o básico feito, não há carta de condução, não há subsídio, não há ...). Os restantes 6, escolaridade complementar, de formação pessoal, social e profissional (esta começa aos 13 anos/7º ano de escolaridade, e intensifica-se para aqueles que não conseguem progredir no currículo dito normal). Desta forma, os que não tiverem competências (no fundo, os que não são capazes ou não dispõem de oportunidade) sairão da escola, aos 18 anos, como técnicos de uma área profissional. Para estes, ensino nocturno modular, RVCC, Cursos Profissionais remunerados - e só para estes. Os restantes devem investir na prossecução dos estudos. 30 horas no máximo de aprendizagens - só da parte da manhã. De tarde, até 3 horas de actividades de integração, socialização, desenvolvimento pessoal, recuperação, currículo oculto, chamem-lhe o que quiserem. Os Professores trabalham, todos, 3h a 4h de manhã, 1h a 2h de tarde, num total de 25h semanais. Currículos alterados visando a aplicabilidade à vida activa. E chega!
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sequeira
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Re:Escolas, Professores e Outros Profissionais - 17/12/06 23:12
3.1 – Como fomentar uma melhor articulação entre os professores e os pais/encarregados de educação tendo em vista melhorar o sucesso escolar dos alunos?
Agora que já vou no assunto nº 3 já começa a existir alguma recorrência nalguns pontos das perguntas embora isso não seja nenhum óbice. Tempos houve em que a retórica professoral inibia um pouco os pais da maioria dos alunos menos letrados na sua maioria, com menos capacidade para o contraditório até porque chamados a participar numa área que lhe era distante, fora do seu contexto quotidiano! Na orientação dos colóquios havia também algum caciquismo e autoritarismo que ora diminuía os pais, ora até os afastava das reuniões, ora se culpabilizavam os pais em parte pelo insucesso dos filhos… Com o crescimento e mais colaboração das comissões de pais as palestras terão evoluído para uma comunicação mais de igual para igual até que finalmente se reconhece que o insucesso escolar não podia ser só culpa dos pais e ou dos alunos, mas também e muito dos professores, da mudança constante de livros e de professores, enfim do sistema em geral que tem sentido necessidade de evoluir para melhor! Assim, numa sociedade em que todos partilham a sua quota parte de culpa é mais fácil partir para o diálogo tendente a minorar as falhas de parte a parte no sentido de uma melhoria geral do ensino e sobretudo da aprendizagem. Numa sociedade que se quer cada vez mais perfeita, solidária, mais humana, haverá que dar ouvidos a todos intelectuais ou não, formados ou não porque todos são pais, todos terão a sua visão do problema e todos quererão certamente o melhor para os seus filhos! Desde há muito que se vem falando na produtividade dos trabalhadores, no mérito! Quem quer um emprego privado faz testes, é sujeito a entrevistas, em suma é avaliado! Depois só faz carreira quem demonstra valor, quem faz progredir a empresa! Nos têxteis e noutras indústrias era vulgar ouvir-se que eram controlados de tal maneira que já se sabia de antemão quantas peças teria de produzir um trabalhador normal por hora e quantas mais produzia um muito bom! Enfim, a produtividade e o mérito, os resultados e os objectivos estão implantados na sociedade! Então porque não aplicar tudo isso na administração pública espaçando muito mais os automatismos das promoções? Todos nós sabemos que ao abrigo de uma data de artigos legais às vezes os professores primários não punham os pés nas escolas para onde eram designados ou então faltavam com frequência e metiam baixas! Eu fui aluno em Línguas e Secretariado no ISCAP e sei que alguns colegas meus em início de curso estavam colocados a dar aulas a meu ver sem preparação e houve até um de Aduaneiro que estava a dar práticas de secretariado quando não tinha sequer essa disciplina no seu curso sendo ainda por cima gago! Enfim poderíamos quero crer até falar em falta de preparação de certos professores para dar algumas disciplinas, mas fiquemos por aqui. Portanto os professores têm de começar por ter os seus cursos devidamente acabados, formação pedagógica e psicológica antes de iniciar-se como tal. Deveriam, como dantes, ser sujeitos a estágio, remunerado claro, sob orientação dum mestre qualificado e com muita experiência. Durante a sua carreira deve, como outros doutores, ser avaliado pelos resultados obtidos e pela sua real capacidade de ensinar. O facto de ter tirado 18 ou 19 não quer dizer que saiba ensinar e consiga bons resultados com os seus alunos. As escolas no seu todo devem também ser avaliadas e os seu resultados comparados com os de outras escolas. Mas dir-me-ão que há escolas inseridas em comunidades mais propícias e outras menos! Para isso ser tomado em consideração e melhorado há que por o serviço social em funcionamento, os psicólogos e os nutricionistas nas respectivas cantinas. Alguns pais, isto é, muitíssimos não têm possibilidade de ajudar os seus filhos a fazerem os trabalhos de casa, outros quiçá mais capazes andam numa correria o dia todo chegando a casa arrasados. As crianças ficam horas em casa sozinhos e ou ao cuidado de empregadas domésticas que a maior parte das vezes têm uma educação muito limitada para além de que não têm autoridade. A vida nas cidades encaixota as crianças, obriga-as a estar sentadas a ver programas de TV desinteressantes, pouco educativos e ou construtivos das suas personalidades, sujeitos a uma publicidade agressiva e desenfreada! Entretanto a Internet pode ser uma óptima ferramenta para se aprender, assim como para destruir. Hoje o ensino, a educação começam a globalizar-se passando a tornar-se uma responsabilidade de todos, da sociedade em geral e já nunca mais só dos professores e muito menos dos pais que têm de trabalhar todo o dia para pagarem as contas. As escolas têm que estar disponíveis para dialogar com as comissões de pais em horas a que estes possam estar presentes! Por sua vez os poderes públicos têm de pressionar as empresas para que dispensem os seus trabalhadores umas horas de dois em dois meses para participarem e colaborarem com os professores em iniciativas que criem familiaridades entre pais, alunos e professores! Se a escola em colaboração concertada com a restante sociedade envolvente se tornar cada vez mais uma grande família quero crer que os resultados se farão sentir em larga escala. Entretanto, hoje mais do que nunca, os professores terão também de assumir ao máximo a sua função de educadores aceitando que os alunos permaneçam mais tempo nas escolas onde necessariamente também terão que haver espaços de divertimento, de expressão artística livre, exercício físico, trabalhos manuais e ou oficinas, artesanato, etc. O que falta na sociedade portuguesa é a evolução de um individualismo tradicionalista para todo um sem número de iniciativas viradas para o bem comum, para o voluntariado, para um real bem querer ao próximo! Parece-me que hoje um dos grandes problemas da sociedade é que as suas crianças e jovens circulam, vivem, crescem tempo demais um pouco sós, entregues a si próprias, com apoios aqui, agora acolá, mas não constantes e continuados. Assim, as suas estruturas físicas, psicológicas, emocionais sem apoios continuados e sólidos hesitam, têm medos, ficam inseguras, procuram saídas às escuras, caem nos abismos… Nós a sociedade a que eu chamo rasca e à rasca que um dia tivemos o topete e a pouca vergonha de chamar aos filhos a que demos origem de juventude rasca temos que meter a mão na consciência, perceber que temos falhado redondamente e que não adianta disparar culpas para todos os lados! Rever, corrigir, endurecer a educação, exigir mais disciplina, mais memória, dar mais e exigir mais, amar mais e mostrá-lo menos. Para criar excelência todos temos de ser excelentes! Em favor dos nossos filhos, pela nosso sossego na velhice, pela Pátria, melhorar, melhorar! Eis o caminho que proponho. Sequeira - Porto
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