Quiron
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Re:Competências para o século XXI - 25/07/06 16:07
Escreve o autor deste artigo: «A formação integral assume [...] um papel preponderante, cabendo aos professores a tarefa de capacitar os alunos para viver numa sociedade que está em permanente processo de transformação. Isto implica ir além das dimensões cognitivas e instrumentais, trabalhando também a criatividade e a responsabilidade social, a par de componentes éticos, afectivos, físicos e espirituais.» [sublinhados meus]. Primeira observação: não me parece que caiba aos professores capacitar os alunos para viver numa sociedade que está em permanente proceso de transformação - ou seja, numa sociedade que é apresentada como um dado adquirido - mas sim capacitá-los para viver em qualquer sociedade, mais estática ou mais dinâmica, que eles queiram e possam construir ou para onde possam ou queiram emigrar. A tentativa de os capacitar para viver só nesta sociedade, só pelas regras do pensamento único vigente - mudança, transformação, impermanência, precaridade - é evidentemente um projecto totalitário. Segunda observação: capacitar as pessoas seja para o que for não implica de maneira nenhuma ir para além das dimensões cognitivas e instrumentais. Sujeitá-las a uma ortodoxia qualquer é que pode implicar a exorbitância proposta pelo autor. Terceira observação: se a instituição escola, além de intervir sobre os aspectos cognitivos e instrumentais, invadir os territórios da «criatividade», «responsabilidade social» e dos «comportamentos éticos, afectivos, físicos e espirituais», não terá deixado ao objecto desta intervenção, nem a qualquer outra pessoa ou instituição, nenhuma margem de humanidade ou de escolha - o que torna ainda mais evidente o carácter totalitário da escola aqui proposta, que é em larga medida a que se tem estado a construir nas últimas dácadas. A esta luz, não se compreende como o autor se propõe «facilitar a promoção da dignidade humana»: a sua doutrina, quer ele se aperceba disto, quer não, é profundamente anti-humana na medida exacta em que preceitua a profanação do que no ser humano há de sagrado.
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