JPFerreira
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Olhar para o passado - 29/11/06 12:11
Recentemente, enquanto pesquisava monografias num dado tema na biblioteca da minha Escola, deparei com um livro fora de sítio (mal catalogado) que versava sobre uma das disciplinas que lecciono. A obra era de 1972, mas desfolhei-a e imediatamente me prendeu a atenção. Tenho lido avidamente esse livro, porque é uma verdadeira pérola científica e pedagógica. Escrito de modo simples, com imagens despretensiosas (a preto e branco) e focando de um modo acessível os fundamentos da área científica em questão. Ora, o mercado está repleto de livros recentes na mesma área que, aparentemente, são superiores (imagens lindas, sugestões para páginas Web, joguinhos, etc, etc). Mas a verdade é que estes livros não transmitem de modo tão claro os conhecimentos básicos. Como eu gostava que os meus alunos soubessem esses fundamentos...
Como é sabido, muitos alunos chegam hoje ao Ensino Superior sem saber redigir, a errar em álgebra elementar e a falhar nas coisas mais básicas da Física ou da Química. Todavia, olhando para os manuais e programas do Secundário, parece que já seriam «doutores». Se, de facto, os alunos soubessem tudo o que lhes é «impingido» no Secundário, as Faculdades serviriam para fazer revisões...
A meu ver, o «cancro» do Ensino em Portugal não vai acabar enquanto o ensino do 5º ao 12º ano de Escolaridade não levar profundas alterações, no sentido de voltar ao essencial, ao verdadeiramente básico. Há duas alterações que considero fundamentais para estes níveis de ensino:
1) Reduzir ao número de disciplinas. Não é preciso ser grande pedagogo para concluir que um miúdo de 10-14 anos de idade com 10, 12 ou 14 disciplinas fica estonteado...E o que seria essencial aprender, fica diluído no meio de «tanta tralha».
2) Simplificar programas. Deixemo-nos de pretensiosismos! O Mundo (social e científico) é complexo, mas os miúdos nunca vão aprender a lidar com ele se não começarem por aprender as bases - dominar a escrita e os fundamentos das ciências.
Na última década, assistimos a uma progressiva deterioração da aprendizagem, apesar dos esforços em contrário (com permanentes «revoluções pedagógicas»....). Assim, sugiro vivamente que se olhem para os programas curriculares de há 15 ou 20 anos atrás (que se focavam nas «bases»), bem como para alguns manuais escolares desse tempo. Obviamente, esses programas e livros têm de ser adaptados (por exemplo, hoje é imprescindível ensinar tecnologias de informação). Mas, com os meios pedagógicos actuais e a «filosofia» do antigamente, com certeza que o Ensino Básico e Secundário melhoraria. Entre outros, o abondono escolar diminuiria, pois as crianças sentem-se «desligadas» das matérias ensinadas, de tão confusas e desajustadas que são. Se aquelas duas medidas não forem tomadas, estou certo que andaremos em círculos, de reforma em reforma, sem resultados no sentido certo. Daqui a uns anos veremos!
Item editado por: JPFerreira, em: 02/12/06 11:12
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