re:crise da escola? |  forum
 
Forum  


<< Início < Anterior | 1 2 3 | Seguinte > Final >>
Qualidade e Equidade em Educação - 06/06/06 08:06 Esta árvore discute o conteúdo do artigo: Qualidade e Equidade em Educação

Há uns anos, numa reunião de pais do 5º ano, perante a recorrente ausência dos pais/educadores doa alunos com baixo rendimento escolar e mal comportados e com o objectivo de os trazer à Escola, até para que as reuniões de pais deixassem de ser um desfiar de queixas do Director de Turma sobre os alunos não respresentados e pudessemos passar a outros assuntos de interesse geral, entre os quais o aproveitamento geral dos n/ próprios filhos, muito aquem das nossas (minhas e dos dias de hoje) expectativas, apesar das boas notas, sugeri que tentassemos trazer alunos e família à Escola, por exemplo, aos sábados, com actividade culturais, lúdicas, de confraternização, para que esses pais se habituassem a ir à Escola não apenas para ouvir queixarem-se dos filhos e se relacionassem com os outros, criando uma "bolsa de vizinhança/vivência comunitária". O Conselho Directivo informou-nos de que tal não era possível por falta de recursos humanos para promover a limpeza, etc.. Que nós próprios a faríamos, retorquimos; que não era possível.
Nessa mesma semana, a minha filha trouxe um convite para os pais assistirem no sábado próximo à tarde, a um evento do interesse da evolução dos alunos, evento esse que oferecia à criança que conseguisse convencer ambos os pais, um jogo electrónico; à mãe, uns brincos e ao pai uma caneta... Ora esse evento tratava apenas da promoção de um conjunto de livros de inglês... Claro que reclamei, que a minha filha não servia de caixa de correio de campanhas publicitárias, ainda por cima de baixo nível. Na altura, a professora (de português)que entregou os convites justificou-se que nem sequer tinha lido o convite, que apenas tinha obedecido a um pedido do Conselho Directivo e ficou muito zangada comigo, que tinha muito anos de ensino e por aí adiante...
Pois é, como dinamizar a relação Escola/Família?

Nota: Será possível aumentar a letra do corpo do texto, para facilitar a intervenção de quem já não vê muito bem? Obrigada.
  | | O tópico foi bloqueado.
Re:Qualidade e Equidade em Educação - 06/06/06 15:06 O meu depoimento tem por base uma suspeita.
Bem, estou consciente de que uma suspeita não é matéria suficiente para
tirar conclusões seguras. Por isso, as minhas conclusões devem ser tomadas como provisórias. Então qual o interesse disso? Porventura nenhum, porém em minha defesa declaro que essa minha suspeita tem um contorno experiencial.
Pois bem, sou professor do ensino secundário e tenho mais de trinta anos de serviço.
É dessa experiência que tiro a minha suspeita de que o sistema educativo português falha sobretudo no terceiro ciclo.
Ora, ora, a velha pecha do alijar de responsabilidades! Responsabilizar um ciclo em que não lecciono e que directamente antecede aquele em que lecciono(sou professor de Filosofia, disciplina que só é leccionada no secundário) é fácil e assemelha-se a um sacudir de água do capote. Mas para afastar a ideia de que essa seja a minha intenção, vou fazer um esforço de clarificar o meu ponto de vista.
Verifico, com frequência que alguns alunos com quem trabalho, no décimo ano de escolaridade, recém aprovados no terceiro ciclo, apresentam graves deficiências comportamentais no que concerne a hábitos de trabalho. Verifico que ficam à espera de que a solução seja dada pelo professor; que, em trabalhos de grupo, se limitam a fazer cópias dos textos da bibliografia justapondo-os, sem a noção de que isso não se conforma a trabalho de grupo nem tão pouco a trabalho original; e alguns até não distinguem o espaço de aula do espaço de convívio. Em suma, um grupo considerável dos alunos que frequentam o décimo ano não tem ainda adquiridos, ao fim de nove anos de escolaridade obrigatória, correctos hábitos de trabalho e de participação na aula.
E não me refiro a esporádicas atitudes de descompressão ou até uma que outra atitude impertinente que a idade potencia; trata-se de algo mais estrutural que impede a aquisição de conhecimentos e o amadurecimento, em tempo útil, que permita acompanhar com sucesso a dificuldade dos programas do secundário. Neste particular, e no respeitante à Filosofia, por exemplo, as divergentes atitudes revelam a diferença de aproveitamento. Como estes alunos têm habitualmente 15 anos, e às vezes até 14, quando iniciam o 10º Ano, o grau de abstracção de certos conceitos cria-lhes algumas dificuldades. Porém, os alunos que têm hábitos de trabalho bem adquiridos progridem a ponto de recuperarem ao longo do ano. Os outros não. Escudam-se na dificuldade e desistem imediatamente.
Mas que tem isto que ver com o terceiro ciclo? E como é que uma intervenção a este nível pode alterar este estado de coisas, que não sendo geral, é suficientemente alargado para pedir intervenção?
Aqui especulo um pouco, e a solução que proponho gostaria de a ver discutida, mas porventura experimentada em ambiente restrito.
Os alunos atravessam o terceiro ciclo entre os 12/13 e os 14/15 anos, idade de transformações profundas a nível psico-somático. Nesta altura, no nosso sistema educativo, estes alunos já estão a frequentar disciplinas independentes geridas por diferentes professores. Ou seja, não obstante haver um Director de Turma que coordena a Turma como grupo, ficam os alunos em boa medida entregues a si mesmos. Respondem a cada professor em separado.
O cômputo da situação far-se-á em momentos distanciados de avaliação. Mas não serão eles ainda muito novos, e sobretudo, atendendo à situação de mudança de crescimento, demasiado desamparados para que assumam assim a responsabilidade de se auto-orientarem? Ligo isto sobretudo àqueles alunos cujos encarregados de educação, por razões várias, não os acompanham no quotidiano escolar. Não seria desejável alterar esta situação?
Pois bem, é no pressuposto de que valeria a pena intervir neste ponto que proponho uma solução, que afinal nada tem de original. Trata-se apenas de prolongar a gestão grupal das matérias disciplinares no terceiro ciclo, reduzindo assim o número dos professores de cada turma deste ciclo e aproximando-os mais dos alunos.
Eu sei que uma proposta destas tem vários inconvenientes porque, entre
outras alterações, mexe com a orgânica das habilitações e formação da
docência. Por isso, para além de a ver discutida, creio que teria interesse saber se há por essa Europa fora alguma experiência deste tipo. E, caso se julgue de interesse avançar para ela, que nunca se a aplique sem que antes seja testada em restrito ambiente experimental. É que já anda toda a gente farta de «inovações» na escola. Sobretudo porque os investimentos duplicam, as reformas sucedem-se e os resultados mantêm-se com um nível de insucesso elevado.
Fecho por ora esta minha contribuição para o debate em curso.
O que me faz intervir é o desapontamento. Já atravessei várias reformas e ilusões. De tal modo que até receio fazer propostas. E, no entanto, algo tem que mudar, se for para melhor. Mas já não alimento grandes ilusões. Esta escola é a escola deste país, cada vez mais incapaz de sair da cauda da Europa. Porém resignar-se a esta fatalidade é desistir de lutar.

Voltarei!

Luís Ladeira,

professor da Escola Secundária Braamcamp Freire, Pontinha
  | | O tópico foi bloqueado.
Re:Qualidade e Equidade em Educação - 07/06/06 15:06 Caro Professor Ladeira,

Permita-me que assine a sua reflexão, quase na sua totalidade. De facto e logo no 2º ciclo, há uma mudança drástica: as crianças vêm das mãos de apenas uma docente que, muitas vezes, acompanha os pais na construção da redoma à sua volta. A par das mutações físicas e psicológicas próprias da idade, têm que adaptar-se a diversas personalidades, quer dos vários professores, quer dos alunos também eles em diferentes graus de desenvolvimento, sem que haja elementos agregadores desse repentina, dolorosa e não rara e fragilmente exposta dispersão (o Director de Turma, que muitas vezes é também novato na escola, não é figura de referência bastante).
Por outro lado, há uma falência quase completa na aprendizagem da organização individual do trabalho e da interacção grupal: os trabalhos feitos pelos pais, os trabalhos de grupo feitos sempre pelos mesmos, os trabalhos de “copy” and “Paste” (se ao menos lessem o que entregam…) caídos da internet, passam incólumes e geram boas notas. Quantos alunos sabem fazer uma pesquisa? Quantos alunos sabem consultar um dicionário, elaborar uma carta, endereçar um envelope? Quantas escolas trabalham a interdisciplinariedade?

Digo que assino quase na totalidade, porque não estou certa se prolongar a gestão grupal das matérias disciplinares aos 2º e 3º ciclos será melhor caminho que o inverso – multidisciplinar o 1º ciclo… Em tempos pensei muito no assunto, a ele voltarei pelo seu desafio aqui.

O que me parece deveras premente é direccionar a educação/ensino para grandes objectivos gerais e específicos; nos gerais, incluir as necessidades individuais e colectivas, estabelecer metas catalizadoras da transformação; nos específicos, atender à especificidade de cada local, de cada cultura loco-regional e entender a comunidade também ela como agente educativo, interagindo com ela. O modelo, que ainda muito grassa nas n/ escolas, da transmissão de conteúdos, numa oralidade de cima para baixo (que depois exige aferição de conhecimentos por escrito), não motiva ninguém, não vai dar a lugar nenhum com ideal preso numa estrela.
No meu tempo de “pequenina”, ainda no tempo do fascismo, estudava por gosto (tive óptimos professores e 2 outros excelentes, ambos irmãos – Pires - um a Matemática e outro a Português, que até elaborou uma gramática poética para nós fixarmos as regras) nem me lembrava que isso me iria ajudar profissionalmente, nem me preocupava com o emprego; agora, eles estudam o que não gostam, de formas que detestam e sabem que não vai servir para nada, que já nem os bons conseguem emprego. Depois, também acabamos com o ensino profissionalizante (sim, que o IEFP não serve para quase nada, diga-se!) e que boas escolas tínhamos…
É assim, 30 anos de Abril desejado, amado ainda antes de nascer, como um filho, e ainda andamos nisto… País incapaz de sair da cauda da Europa…

Que aqui, pequeninos, ainda consigamos pintar o mundo! Volte, sim!
  | | O tópico foi bloqueado.
Re:Qualidade e Equidade em Educação - 21/06/06 22:06 Pois é! É possível que também se possa colocar a questão desse modo,L. Martins. Por que não multidisciplinar o 1º ciclo? Nunca examinei o problema desse prisma. Em todo o caso, aquilo que eu proponho é mensurável. Isto é, é possível ser montado um observatório da evolução dos alunos a partir do primeiro ciclo e verificar se há ou não uma certa desorientação, sobretudo a partir do terceiro ciclo, precisamente naqueles alunos que não têm rectaguarda. Ou seja, aqueles cujos pais, pelas mais diversas razões, não os acompanham. A minha hipótese assenta no facto de chegarem ao décimo ano alunos com atitudes completamente diferentes. Aqueles que têm métodos de trabalho e não confundem a sala de aula com a sala de convívio e os outros, que não tendo essa disciplina de trabalho, não só desistem à primeira dificuldade, como ainda, e por via disso, se tornam um estorvo para a aprendizagem dos restantes.
Bem, mas quem sabe se esse «despiste» não advirá duma sobreprotecção no primeiro ciclo? Bem, é uma hipótese de trabalho. Parece-me, no entanto, mais fácil fazer a observação a partir da situação existente e caso a hipótese não seja consistente, inverter então a análise.
  | | O tópico foi bloqueado.
Crise da Escola? - 05/07/06 13:07 Crise da escola ou crise da educação ?
O estado da educação/escola em Portugal não é primariamente o resultado, como alguns querem fazer crer, da imposição (?), no nosso sistema, nas últimas décadas, de determinadas ideologias pedagógicas. Resulta sim do aglomerar de contradições e de orientações de sinal contrário que descaracterizam e aprisionam a escola no seio de problemas -chave que fazem com que a educação não saia do marasmo em que se encontra e seja o campo de batalha de todas as opiniões.
Primeira questão: como conciliar a aprovação generalizada (ou não “retenção”) com qualidade e exigência? É que é cada vez maior o número de alunos que muitas vezes afirmam não quererem aprender, estarem na escola porque são obrigados, que aquilo não lhes interessa para nada, etc. e em relação aos quais os professores tentam por todos os meios ensinar alguma coisa. Enquanto isto, os outros alunos, a excepção, os melhores, os que não dão problemas, os bem-educados, os que querem aprender e para os quais a escola faz sentido vão perdendo hábitos de trabalho, de rigor, de disciplina qualidades que, mais tarde, por exemplo, no ensino superior, serão acusados de não possuírem...
Creio que este problema – conciliação entre progressão para todos e qualidade de ensino - se poderá resolver com a criação de turmas de nível, em que os alunos não transitam todos para o mesmo nível de aprendizagem mas para níveis diferenciados em relação à progressão nos estudos. Por exemplo, um nível permitirá a progressão para os estudos superiores, outro, para cursos técnico-profissionais e outro, ainda, para os cursos profissionais. Evidentemente que estes níveis não seriam estanques entre si, permitindo em determinadas condições, a respectiva transição. Haverá outras maneiras?
Segunda questão estruturante: em nome da inclusão, em nome da escola para todos tudo começou a ser permitido: as normas deixaram de ser cumpridas, os regulamentos não são aplicados pois não são permitidas sanções que impliquem retenção do aluno, ou a exclusão da escola, mesmo quando esta sente que não tem condições para lidar com os problemas criados por uma minoria ínfima de alunos que estão lá para tudo menos para se “deixarem” educar. É o laxismo: Permite-se tudo aos alunos. Os professores sentem-se impotentes. A escola transforma-se num local em que tudo pode acontecer e nada é sancionado: Um professor é ameaçado fisicamente, mas no dia seguinte tem o aluno na sua aula para lhe repetir a ameaça. Deste modo vai-se minando a autoridade do professor... resta um pequeno problema: todos sabemos que sem autoridade não há educação.
Ainda em nome da inclusão, da escola para todos, a escola começou a diminuir o seu grau de exigência em relação aos saberes.
E Agora a questão: se a escola não faz com que os alunos interiorizem normas, não exige saberes, qual é a sua função?
Toda a gente tem noção deste problema mas consciente ou inconscientemente não o quer equacionar: os pais que têm disponibilidade financeira e que querem uma boa educação para os seus filhos, que desejam que eles se constituam cidadãos autónomos, conscientes, livres e críticos põem-nos no Ensino Particular - lugar onde existem normas, onde se ensina e se aprende. Veja-se que o nível de qualidade entre o ensino público e o privado aumenta a cada ano que passa.
A quem aproveita esta situação? Não estamos em nome da inclusão a aumentar o número dos excluídos? Não estamos a reforçar as diferenças de origem em nome da igualdade de oportunidades?
Enquanto não se tiver a coragem de repor a autoridade do professor, de dizer aos alunos e pais dos alunos que há normas de boa educação que têm de ser respeitadas sob pena de penalização, que os alunos não podem passar, por exemplo para o segundo ciclo, se não tiverem interiorizado o respeito pela autoridade (Pais, professores, empregados, etc.), capacidade de ouvir e executar uma ordem, teremos muito do esforço dos professores desaproveitado, teremos ainda no 12º ano professores a queixarem-se que gastam muita da sua energia, que deveria ser gasta em ensinar, a mantê-los em ordem para poderem ensinar alguma coisa.
Curioso que os professores do Ensino Superior que tradicionalmente estavam imunes a este problema venham agora estranhar a atitude com que os seus alunos se apresentam nas aulas: a de quem vai à espera de ser entretido.
Finalmente há que responsabilizar os pais pela educação dos seus filhos. Não são eles os primeiros responsáveis pela educação no dizer da Constituição da República? Mas como? Há medidas que se poderiam tomar e que, quanto a mim, teriam consequências extraordinariamente positivas.
A primeira consistiria em dar-lhes liberdade de escolher a escola para o seu filho e acabar com a hipocrisia reinante de declarações falsas de residência, cunhas, etc.
A segunda, de um outro nível, condicionaria a atribuição do abono de família a uma declaração da escola em que esta atestaria que o aluno em questão é assíduo e bem comportado.
Finalmente, proíba-se (na constituição ou na lei de bases) que se intervenha no Sistema Educativo sem previamente se fazer avaliação daquilo que se quer mudar. É necessário que todos os intervenientes (alunos, pais e professores) sintam alguma estabilidade e coerência no sistema para que o possam respeitar.
  | | O tópico foi bloqueado.
Re:Crise da Escola? - 10/07/06 09:07 No artigo não está referenciado o autor - José de Araújo Ribeiro. Mestre em ciências da educação
Director de Centro de Formação
  | | O tópico foi bloqueado.
<< Início < Anterior | 1 2 3 | Seguinte > Final >>