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Re:Contributos da Educação Ambiental - 05/02/07 10:02 A Educação constitui um pré-requisito para a promoção do desenvolvimento sustentável e um instrumento fundamental para a prossecução de uma governação coerente dos bens públicos, nomeadamente da qualidade ambiental e dos recursos naturais. De facto, na sua essência, o desenvolvimento sustentável e a valorização da qualidade ambiental requer uma construção social, económica e politicamente determinada e está dependente da análise critica de estilos de vida, de recursos humanos e financeiros, de prioridades de desenvolvimento e da cidadania. Estas múltiplas dimensões associadas ao desenvolvimento sustentável levam-nos a destacar a importância que a educação e literacia ambiental podem proporcionar, bem como a importância da integração de valores inerentes ao desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da aprendizagem dos indivíduos visando o aperfeiçoamento de comportamentos que ajudem atingir uma sociedade mais justa e um ambiente mais sustentável.

A educação para o desenvolvimento sustentável desenvolve e reforça a capacidade dos indivíduos, dos grupos, das comunidades, das organizações e dos países para formar juízos de valor e incentivar a processos de tomada de decisão mais consonantes com os princípios do desenvolvimento sustentável. A Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável e a Estratégia da CEE/ONU para a Educação para o Desenvolvimento Sustentável constituem incentivos para reflectir as potencialidades, as funções e os mecanismos que as instituições governativas, as instituições escolares e os diversos actores locais dispõem para promover a literacia ambiental. Os processos de Agenda 21 Local constituem mecanismos para rever a forma como se tomam decisões em matéria de ambiente e desenvolvimento. Estes processos envolvem (i) a identificação do conjunto dos actores locais chave, (ii) a realização de um diagnóstico dos problemas, (iii) a identificação de prioridades, (iv) a identificação de uma programa de acção, de compromissos e de parcerias e, (v) a definição de um programa de avaliação e monitorização que ponha em evidência os resultados alcançados, os obstáculos e os requisitos para o futuro. Estes processos são desenvolvidos através de um debate público alargado sobre os valores a preservar, as prioridades a ter em conta na definição de estratégias de desenvolvimento local visando aumentar os níveis de sensibilização e co-responsabilização dos diversos agentes locais pela preservação dos valores públicos, tais como a qualidade ambiental e os recursos naturais.

O mecanismo de operacionalização do Programa Eco-Escolas evidencia um conjunto de particularidades que se assemelham, em parte, ao processo de agenda 21 local anteriormente referido. Tendo como objectivo fundamental a promoção da educação para o desenvolvimento sustentável integra um mecanismo participativo que combina um processo de educação ambiental com um processo de educação para a cidadania num contexto de participação no meio escolar, e que, idealmente, se deverá estender às comunidades locais (famílias, associações, empresas, autoridades governativas, etc.). O seu contributo permite não apenas aumentar os conhecimentos ambientais da comunidade escolar e o desempenho ambiental da própria instituição escolar mas, também, sensibilizar os restantes actores envolvidos, constituindo assim um veículo relevante para implementar uma agenda 21 local na comunidade escolar.

A promoção do desenvolvimento sustentável requer, entre outros aspectos, um elevado nível de formação ambiental e de responsabilização dos diferentes actores de uma sociedade. O conceito de literacia ambiental tem estado associado a este requisito e envolve um conjunto de passos essenciais , designadamente, de (i) sensibilização sobre a relação entre o ambiente e a vida humana; (ii) conhecimento sobre os sistemas e processos naturais e humanos; (iii) desenvolvimento de atitudes de atenção e preocupação sobre o ambiente; (iv) desenvolvimento de competências para realizar análises críticas e resolver problemas; e de (v) desenvolvimento de capacidade para a acção individual e colectiva e participação cívica. Os processos de Agenda 21 Local e do Programa Eco-escolas integram mecanismos pedagógicos que permitem desenvolver conhecimentos, competências e capacidades para “aprender e informar”, “debater”, “agir” e “auto-avaliar” fundamentais no processo de educação para o desenvolvimento sustentável. Estas potencialidades sustentam a sua relevância e salientam a sua importância no contexto português, onde ambos os processos, apesar das suas potencialidades para modernizar e inovar a sociedade portuguesa em matéria de desenvolvimento sustentável, carecem ainda de uma adopção em larga escala e, sobretudo, eficaz e consequente.

Arendt afirma que “A educação é (...) o ponto em que se decide se se ama suficientemente o mundo para assumir responsabilidade por ele e, mais ainda, para o salvar da ruína que seria inevitável sem a renovação, sem a chegada dos novos e dos jovens.” Num contexto internacional de alerta para os problemas ambientais globais, num contexto de nacional de reconhecimento do contributo que as comunidades locais podem proporcionar para aperfeiçoar a interacção entre as actividades humanas e o superte biogeofisico e ambiental, cabe às estruturas governativas e educativas locais, e em parceria, um papel chave para incutir o “gosto” e a “responsabilidade” pelo nosso suporte de vida e pela sua sustentação. Compreender como e com que alcance é tarefa de todos nós.
(Teresa Fidélis, excerto de uma breve intervenção no seminário Eco-Escolas 2007)
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Re:Contributos da Educação Ambiental - 05/02/07 18:02 A Educação Ambiental constitui um óptimo ponto de partida para a melhoria da EDUCAÇÃO no nosso país. A actual distribuição dos tempos lectivos facilita a realização de projectos virados para a realidade local.
Contudo para tal é necessário um grande envolvimento dos Professores que por vezes não tem a devida preparação, predisposição ou disponibilidade para o fazerem. O envolvimento das entidades locais, nomeadamente as autarquias, é também essencial para a concretização de alguns destes projectos.
Espero que o desenvolvimento das cartas educativas venha de alguma forma facilitar o envolvimento de todos nesta dinâmica.
A evolução da Educação em Portugal terá certamente que seguir a dinâmica já existente em outros países, em que as escolas se envolvem em mais projectos. Para tal será certamente essencial disponibilizar mais recursos aos professores, e, também realizar acções de formação em áreas consideradas essenciais.
Apesar de tardiamente espero que este meu contributo possibilite que se comece a encarar a Educação Ambiental como um instrumento essencial para a melhoria do nosso ensino . Devemos também aproveitar a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável para produzir recursos e realizar acções e projectos.
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Re:Contributos da Educação Ambiental - 06/02/07 11:02 Na sequência da minha intervenção de ontem desejo acrescentar que o ponto de vista que apresentei tem defensores já antigos. Assim, "António Sérgio escreveu, em 1939, que "o ensino das escolas só será educativo quando os mestres considerarem a Física, a Química, a Matemática, a História, as Ciências Naturais, etc., como simples pretextos, ou instrumentos" para a aprendizagem e para a formação dos alunos". Esta citação de António Nóvoa,do livro "Evidentemente-Histórias da Educação", de 2005 traça uma perspectiva da educação em meados do século XX. O mesmo autor, ainda no capìtulo "O melhor Professor :não é o que mais ensina, é o que mais faz aprender" cita Maria Amália Medeiros(1972), na frase seguinte :" Educativa é aquela aprendizagem que implica o indivíduo na acção de tal forma que esta última é desejada e amada e conduz à criação, ou seja, à integração do eu no mundo e à transformação recíproca do mundo pelo eu e do eu pelo mundo".
Recentemente, no programa Biosfera, da RTP, o Prof. António Câmara, Prémio Pessoa 2006, afirmou que devemos dar possibilidade aos alunos de sonhar e de tentar concretizar os seus sonhos, por exemplo na construção do carro do futuro. A possibilidade de sonhar tem que partir de um conhecimento da realidade e este não pode ser muitas vezes compartimentado em áreas disciplinares.A realização de projectos de Educação Ambiental possibilita a integração de diferentes áreas do saber contribuindo para a consolidação e melhoria das aprendizagens nessas áreas e uma intervenção sobre a realidade em que vivemos, contribuindo para a formação de cidadãos mais activos e conscientes.
Certamente que esta forma de trabalho não é simples e exige um grande empenho por parte dos professores.Precisamos talvez de mais Professores como Sebastião da Gama, Poeta da Arrábida, que no seu Diário afirma "que bom é fazer uma uma coisa de que tanto gosta (ensinar) e ainda lhe pagarem para isso".A sua intervenção pedagógica e cívica foi para além da sala de aula, tendo influenciado a criação da Liga para a Protecção da Natureza com a sua defesa da Serra da Arrábida.Certamente que há cinquenta anos as condições nas nossas escolas eram diferentes mas na base de todo o processo de melhoria da nossa educação estão sempre Professores que gostando do que fazem se questionam e tentam melhorar no dia a dia. Por vezes lutando contra a falta de condições de vária ordem.
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Re:Contributos da Educação Ambiental - 07/02/07 09:02 A vossa resposta ao meu desafio foi muito intertessante gostei muito.
Na verdade a Educação de acordo com o que penso é o bom caminho para uma nova geração de valores da sustentabilidade a promover no ensino de forma explicita, aberta, consciente mas com método e estratégias que acompanhem este novo conjunto de comportamentos a serem adoptados pelo individuo.
A questão vai sempre residir não na falta de vontade do professor em os implementar mas sim no conhecimento sobre a melhor forma de o fazer quer se trate da monodocência quer se trate de outros niveis de ensino e quando falo na preparação do professor refiro-me em especial à formação e não à formação contínua porque essa sempre vai apresentando algumas soluções mas à formação inicial em que os curriculos tem uma lógica fragmentada como refere Garcia e da disciplina. A velha ideia de formar o prático reflexivo como fala Zeichner desde 1983 é uma ideia que pouco passou do papel. Ainda assim penso que a solução pode existir tornando a formação mais flexível mais transdisciplinar mais das àreas e menos das disciplinas. Como em todos os campos também aqui as verdades absolutas não existem e devemos adaptar a formação e nós próprios aos tempos, aos métodos e às estratégias vivemos a sociedade do conhecimento e há parametros e regras a seguir, segui-las pela linha mais sustentável sem se capitar económicamente todas as acções também faz parte do nosso papel. Gostaria de continuar esta conversa tão interessante a vossa opinião ajuda também a melhorar e a reconstruir a minha.
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Re:Contributos da Educação Ambiental - 07/02/07 09:02 O mundo moderno está profundamente influenciado pela ciência e pela tecnologia. Tal, deve-se ao esforço continuado de cientistas e engenheiros. Contudo, a ciência não pode ser apenas uma ocupação de especialistas, mas também parte da cultura de qualquer cidadão activo e participativo socialmente. A ciência nasceu da curiosidade do ser humano, da sua tentativa de entender o mundo que o rodeia. As crianças pequenas são curiosas por natureza. Estão constantemente rodeadas por acontecimentos que as levam a perguntar porquê, o quê, quando e onde. Esta curiosidade revela-se em ambientes formais e informais de comunicação e aprendizagem, quando o adulto e o educador desenvolvem interacções positivas e promovem aprendizagens significativas. À medida que vão investigando as propriedades do mundo físico envolvente, as crianças vão adicionando novos conhecimentos ao seu reportório. Quanto mais conhecimentos adquirirem mais fundamentação tem para desenvolver novos conceitos. Ao tocar, sentir, cheirar, provar, olhar, escutar, manipular, experiênciar, etc. elas sentem-se mais capazes de integrar esta informação em conceitos pré-existente, ampliando e aprofundando a compreensão do mundo em que se encontram inseridas.
Contudo a aprendizagem das ciências na Educação de Infância, segundo alguns autores, encontra-se mais centrada no processo do que no produto final. Para que a criança entenda a definição de um termo tem que agir fisicamente sobre o conceito em que é utilizada a palavra. Um conceito só tem verdadeiro significado para ela quando o pode comprovar através da exploração e manipulação, correspondendo assim, a um processo de aprender como se aprendeu a aprender, metacomunicando com o meio envolvente. As crianças não necessitam de aprender a explorar, perguntar e a manipular, porque nascem já imbuídas deste desejo, é intrínseco à sua condição de ser criança. Esta necessidade de tocar, manipular, brincar e explorar são as bases de todo o futuro da aprendizagem. As crianças sentem satisfação ao serem capazes de manipular e controlar coisas que estão para lá do seu corpo e isso permite-lhes uma clarificação e entendimento do seu mundo físico.
Possibilitar e iniciar a criança na compreensão das propriedades físicas do ar, da água, do solo, do tempo atmosférico e de outros fenómenos naturais é um dos papeis mais importante, que qualquer Educador de Infância e os pais podem desempenhar. É já um dado adquirido que as crianças aprendem fazendo. Ao estimularmos a curiosidade e a criatividade, estimulamos a investigação e a aprendizagem progressivamente. Aceitar as ideias das crianças e desafiá-las com ideias novas desperta-as para uma forma de pensar, que tem um significado muito para além dos factos da ciência. Com esta atitude despertamos a curiosidade, o gosto e o sentido da observação do mundo que as rodeia e promovemos ainda a literacia científica e o desenvolvimento holístico das crianças, em articulação com o jardim de infância e a família, com base no modelo orquestral da comunicação humana. Ao contrário de crianças mais velhas que dominam o código verbal, as crianças pequenas para entenderem a definição de um termo, têm de estar fisicamente activos sobre o ambiente em que o conceito é aplicado. Um conceito tem verdadeiro significado para estas crianças quando o podem vivenciar mediante exploração e manipulação. Na educação de infância tanto o processo de aprendizagem como o ambiente educativo tem mais notoriedade do que o produto final. A preocupação reside na qualidade das aprendizagens e não tanto na quantidade de conceitos que a criança consiga memorizar, eles só farão parte do sujeito, se este estiver implicado no processo de aprendizagem.
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Re:Contributos da Educação Ambiental - 07/02/07 16:02 Não venho acrescentar nada ao que já foi escrito, apenas mais um pensamento, talvez um pouco mais emocional do que racional.
A Educação Ambiental, ou se preferirmos a Educação para o Desenvolvimento Sustentável, tem de fazer parte integrante de uma reestruturação que se deseja no ensino. Na realidade como podemos dizer que temos uma boa educação se as questões ambientais, onde o ser o humano é parte integrante, não fizerem parte do sistema educativo.
A escola só será escola quando ensinar pela observação, pela descoberta, pela experimentação, quando ensinar não apenas a conhecer, mas também a respeitar, a amar e a preservar.
Claro que a EA não se faz apenas na escola e muito menos apenas com crianças, pois se o futuro é das crianças, quem destrói esse futuro neste momento são os adultos. Mas, tal como foi referido pelo Joaquim Pinto “A escola é um lugar privilegiado onde se pode promover e experimentar estratégias que tenham, em si mesmas, um extraordinário valor educativo para viver de acordo com os princípios de sustentabilidade.”
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