re:escola, professores. e realidade nua e crua |  forum
 
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ESCOLA, PROFESSORES. E REALIDADE NUA E CRUA - 25/01/07 14:01 A escola de hoje terá necessariamente de reconhecer que o ritmo acelerado da
vida actual, faz emergir fenómenos sociais de contornos muito complexos, que
conduzem as pessoas de um modo geral, e as crianças e jovens em particular,
ao culto de valores pouco realistas, arrastados pela torrente avassaladora
de um quotidiano caracterizado pela valorização do supérfluo, pelo
comodismo, pela vida fácil e prazer imediato, sem grandes preocupações com
um trabalho sério que exige indubitavelmente esforço, trabalho, empenho e
uma motivação alicerçada na vontade de construir algo de importante no
presente que consolide os alicerces para a vida futura de cada um.
É necessário, é urgente, repensar as estratégias para recolocar a escola no
seu devido lugar, como a trave mestra do conhecimento e um dos pilares
fundamentais da sociedade moderna.
A escola é, do ponto de vista de uma organização sistémica, o sistema
central de um conjunto de sub-sistemas que se interligam e cujo
funcionamento tem por objectivo primordial, educar e formar cidadãos livres,
conscientes e responáveis. Assim sendo, fica identificado o destinatário de
todas as acções planeadas, organizadas e realizadas pela escola: o ALUNO.
Ora, se todo o processo de ensino-aprendizagem assenta num conjunto de
actividades intencionalmente dirigidas aos alunos e ministradas de forma
adequada às suas capacidades e nível de desenvolvimento, então, era suposto
que todos eles de um modo geral atingissem o que normalmente consideramos
sucesso escolar/educativo. Mas a realidade mostra-nos que o aproveitamento é
muito diferenciado, verificando-se um elevadíssimo número de alunos que
apresenta resultados que ficam muito aquém do que seria esperado.
Pode à primeira vista parecer estranho que alunos da mesma turma, a quem são
ministrados os mesmos programas das várias disciplinas, com os mesmos
professores, os mesmos livros e ainda sujeitos a um mesmo quotidiano
escolar, apresentem níveis de aprendizagem tão díspares. No entanto, se
fizermos uma observação atenta, facilmente concluímos que a grande diferença
reside precisamente na mente de cada um dos alunos, e está relacionada com o
factor mais decisivo de toda a aprendizagem que é a MOTIVAÇÃO.
Esta situação levanta-nos outra questão: Porque é que temos nas nossas
escolas alunos motivados, que trabalham de forma empenhada nas tarefas que
lhes são propostas, e outros que se arrastam pela escola contrariados e sem
qualquer motivação, e para quem as aulas são um verdadeiro suplício?
Este é o diagnóstico que importa fazer com a maior lucidez e realismo, pois
só assim podemos conhecer a realidade nua e crua da escola actual. Alunos
que frequentam a mesma escola e convivem no mesmo espaço social, já que
vivem na mesma freguesia ou zona, apresentam atitudes muito divergentes,
algumas até antagónicas, em relação à escola. Isso conduz-nos à descoberta
daquilo que poderá ser a verdadeira razão desse antagonismo, pois se a
totalidade dos alunos são oriundos de uma mesma zona, frequentam a mesma
escola e manifestam atitudes diferenciadas perante as tarefas escolares, que
se traduzem em resultados escolares muito diferentes. E a grande diferença
reside na FAMÍLIA.
O que distingue os bons dos maus alunos no que diz respeito aos resultados
escolares é seguramente o agregado familiar de cada um. É nesse nicho vital
que desde o início da vida de cada um são assimilados os valores
fundamentais que determinam atitudes, comportamentos e posturas perante a
sociedade em geral e a escola em particular.
Uma criança que vive no seio de uma família devidamente estruturada, que
nutre respeito pelos outros, que incute o sentido da responsabilidade, que
estimula o esforço e a exigência como meios para uma vida melhor, que
acompanha o dia a dia das crianças, impondo regras adequadas à idade e ao
nível de desenvolvimento, que cultiva uma convivência assente na compreensão
e tolerância, reconhecendo-lhes o mérito, mas corrigindo os excessos ou
desvios de comportamento, terá as condições necessárias para se desenvolver
de forma harmoniosa, e obterá de uma forma natural o sucesso educativo. Ao
invés, uma criança que seja criada num ambiente adverso, numa família que
vive em constante conflito e sem cumprimento de regras essenciais para uma
boa educação, interiorizam valores e atitudes que não se coadunam com aquilo
que a sociedade e a escola espera dela.
Volvidas duas décadas sob a vigência da Lei de Bases do Sistema Educativo, e
após profundas alterações curriculares, com revisão de programas, livros
mais adequados, material escolar sofisticado mais atractivo com recurso às
TIC, metodologias diferenciadas e um grande investimento ao nível da
formação inicial e contínua de professores, o mais estranho é que o valor
percentual do insucesso escolar mantém-se praticamente inalterado. Tanto
esforço para nada. PORQUÊ?
Não será porque tratamos a situação a jusante esquecendo que os principais
problemas se encontram a montante?
A escola actual deve centrar as suas energias numa busca constante de
melhoria da qualidade do serviço que presta à sociedade.
Uma escola atingirá os mais elevados índices de qualidade desde que garanta
um funcionamento adequado nos diversos níveis da sua estrutura.
Para tal, torna-se urgente criar as condições necessárias a uma participação
empenhada e de qualidade, a todos os intervenientes da comunidade educativa,
nas várias estruturas e órgãos de gestão e administração.
A Assembleia é o órgão responsável pela definição das linhas orientadoras da
actividade da escola onde está garantida a participação e representação da
comunidade educativa. No âmbito das atribuições legalmente conferidas, a
Assembleia aprova o Projecto Educativo, o Regulamento Interno, emite parecer
sobre o Plano Anual de Actividades, aprecia relatórios periódicos e final de
execução do Plano Anual, aprecia o Relatório de contas de gerência, define
linhas orientadoras para elaboração do orçamento e promove e incentiva o
relacionamento com a comunidade educativa, para além de muitas outras
funções.
Para que a Assembleia cumpra todas as suas funções com qualidade e
competência, é absolutamente necessário criar as condições de participação
efectiva a todos os membros que dela fazem parte.
Este é um momento decisivo para se delinearem as directrizes que podem fazer
a diferença ao nível da qualidade de participação dos elementos que compõem
este órgão de importância estratégica para um ensino de qualidade. Não pode
a escola viver à sombra de um trabalho praticamente desenvolvido em regime
de voluntariado, contando com o esforço e dedicação de uns quantos, que, com
a falta de incentivos vão acumulando cansaço e frustração, que conduz à
indisponibilidade para tarefas de responsabilidade.
Neste contexto, e face à exigência do horário do professor contemplar
determinado número de horas de estabelecimento, é da mais elementar justiça
que os membros do corpo docente, pertencentes à Assembleia, vejam parte
dessas horas atribuídas precisamente para trabalho relacionado com este
órgão. Ao pessoal não docente com assento neste órgão devem ser atribuídas
horas para compensar o tempo destinado tanto à preparação como à
participação nas reuniões. Para os pais e encarregados de educação
indigitados para o referido órgão também devem ser criadas condições
adequadas à sua participação, até como forma de estimular o seu empenho e
garantir o aparecimento de novos membros. A participação nas reuniões de um
órgão da importância da Assembleia carece de uma preparação prévia cuidada,
através da leitura da vasta documentação relativa a assuntos tratados neste
órgão.
Assim, com pessoas motivadas e com condições para o desempenho das funções
atribuídas, estarão garantidas algumas das condições consideradas
essenciais, e estaremos certamente no caminho certo para uma escola de
sucesso e um ensino de qualidade.




ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE

Aprovado o novo Estatuto da Carreira Docente, que entrará em vigor dentro
de pouco tempo, importa que a sua regulamentação tenha em linha de conta as
realidades actuais da escola e da sociedade, na perpectiva de melhorar o
ensino e desenvolver o país.
O factor determinante para a escola atingir os mais elevados níveis de
sucesso, é o dos recursos humanos. Por isso, qualquer organização, e a
escola não foge à regra, só poderá atingir esses níveis através das pessoas
que nela trabalham, quando elas possuem formação global e específica
adequadas à suas funções, e as exercem de forma empenhada. Este desiderato
só se verifica quando as pessoas se sentem motivadas e são estimualadas por
factores relacionados não só com a sua realização profissional, mas também
pela satisfação pessoal e reconhecimento social. Regulamentar o estatuto dos
docentes, é, de certo modo, mexer em todas essas vertentes, pelo que é
necessária muita ponderação, para que não se verifique uma aversão ao
estatuto por parte dos seus destinstários: os professores.
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Re:ESCOLA, PROFESSORES. E REALIDADE NUA E CRUA - 30/01/07 13:01 Colega, concordando na generalidade com a sua intervenção permita-me introduzir mais uma variável no mesmo raciocínio, pois entendo que a Família não é a única variável. Frequentemente a variável mais importante é mesmo o PRÓPRIO ALUNO. Basta ver os resultados escolares díspares apresentados por irmãos da mesma família, por vezes até com pequena diferença de idades. Pois, quer queiramos quer não, não somos todos iguais: OS ALUNOS NÃO SÃO TODOS IGUAIS, para podermos responsabilizar principalmente a família. O importante é oferecer a todos as mesmas oportunidades, o que significa oportunidades desiguais para alunos que são desiguais, por isso não podemos formatar a escola ou dar aulas para "a maioria", que frequentemente até é a minoria.
A batalha da MOTIVAÇÃO só pode ser ganha com a diversificação das propostas, ofertas e actividades, preferencialmente com a participação activa dos próprios, para que a actividade escolhida e que encanta o aluno A mas que o aluno B detesta possa ser alternada com a actividade que capta toda a atenção do aluno B, embora aborrecendo de morte o aluno A. A forma de levar a água ao nosso moinho é só nossa em ambos os casos e faríamos um melhor serviço à educação e à escola se pudessemos dispensar o aluno B da primeira actividade e o aluno A da segunda...
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