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Organização escolar - 22/05/06 12:05 Que organização escolar poderá melhorar o processo educativo?
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Re:Organização escolar - 06/06/06 16:06 ATENÇÃO À REALIDADE QUE SE VIVE NAS ESCOLAS!

Li, incrédula, as propostas presentes no Decreto-lei para alteração do Estatuto da Carreira Docente. Muitos antes de mim já se pronunciaram, e bem, sobre as questões graves e subversivas presentes no mesmo. Optei, nesta carta, por chamar a atenção sobre um ponto, referido no artigo nº 46 - Itens de Classificação. Na alínea b) encontramos a seguinte exigência: Realização das Actividades Lectivas (cumprimento dos Programas Curriculares).
Quem trabalha como eu, há anos em diversas escolas deste país, compreende a minha estupefacção perante esta exigência. Passo a explicar.

Sou professora de História, no ensino Básico, há mais de 12 anos. Tenho tido muitas dificuldades nesta profissão/missão a que me dedico. Entre elas os milhares de Km que percorri no inicio da minha carreira, colocada várias vezes longe da minha família com dois filhos.Não foi fácil, foi psicologicamente e fisicamente esgotante, mas suportável.
Por incrível que pareça neste momento, sinto um cansaço e um desanimo que nunca antes havia experimentado. Sinto-me "esventrada" e atacada e destituída do meu orgulho profissional e daquela motivação e alegria que sempre me invadiam quando entrava numa sala de aulas. É verdade, sempre me sentia bem na Escola. Agora já não.
Que perseguição sem precedentes é esta que este M.E iniciou contra todos os professores deste país? Qual é o objectivo? Mudar algo? Assim? Desmerecendo e desautorizando....
Não entendo.
Em vez de nos atacar sem objectivo, quantas medidas não se poderiam implementar de valor? muitas. Algumas até permitiriam por em prática parte do novo E.C.D...
Quer um exemplo? Tenho 7 turmas a meu cargo, isso perfaz 173 alunos, aos quais devo atender com pedagogia diferenciada e personalizada. Em grupos de 25/26 jovens, uma vez por semana com cada turma.. Conhecendo os jovens de hoje, como decerto conhece, diga-me muito honestamente, acha possível?
A nossa profissão/missão é uma tarefa que nem um gestor altamente treinado, nem empresário com nervos de aço aguentaria durante um dia: levarmos com um grupo de jovens (25/26 de cada vez) sem interesse na aprendizagem, pouco educados e habituados ao entretenimento televisivo a interessarem-se pela História do seu país. Acha fácil?

De facto, muitos desses jovens, com altos défices de atenção e incapacidade de concentração, por vezes não querem e não colaboram, já para não dizer que perturbam a aprendizagem de outros. É um combate diário contra a insolência pura e simples, que nos leva grande parte do tempo disponível para as leccionações.

Querem agora sujeitar-nos a esta humilhação pública de sermos avaliados pelas famílias daqueles que avaliamos? Que princípio mais subversivo é este?
Responsabilizam, agora, os professores por não cumprirem os programas e, diga-me, como cumprir? A carga horária da minha disciplina está reduzida a uns míseros 90 minutos no básico, uma vez por semana. Ou seja, vejo os meus alunos quatro vezes no mês. Se fizer um teste, ou ficha de trabalho, são três semanas (uma aula de revisões, a do teste/ficha e a correcção) que passam sem avançar no programa. Consegui leccionar um pouco mais de metade do programa previsto, e olhe, há três anos que não dou uma falta. Acredite-me não é possível esvaziar mais os conteúdos sem se perder o carácter formativo e os saberes históricos essenciais. Sendo assim como cumprir? Talvez aumentando a carga horária das disciplinas consideradas estruturantes do pensamento? Nomeadamente, Geografia, História, Matemática, Português, Ciências e as Línguas, por exemplo. Contrariamente, os alunos são sobrecarregados com 12 disciplinas diferentes, onde é fácil perderem-se com ajuda dos seus, bem conhecidos, défices de concentração.
E a História do país e do mundo, tão formativa e que contribui, e muito, para o desenvolvimento de uma cidadania consciente, para tolerância com base no conhecimento de outras culturas, para a afirmação de uma identidade nacional, para o entendimento e relativização dos conflitos, entre tantas outras competências que procura promover, vai sendo desvalorizada e desconhecida pela esmagadora maioria dos jovens deste país....
Entretanto, os professores, no meio desta má gestão curricular, são responsabilizados pelo fracasso de políticas educativas, nas quais não tiveram uma palavra a dizer.

Natália Figueiredo Marques- Mealhada
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Re:Organização escolar - 07/06/06 19:06 Exma. Sra. Professora Natália Figueiredo Marques:
“Tenho tido muitas dificuldades nesta profissão/missão a que me dedico. Entre elas os milhares de Km que percorri no inicio da minha carreira, colocada várias vezes longe da minha família com dois filhos. Não foi fácil, foi psicologicamente e fisicamente esgotante, mas suportável.”
Continuo a entender esse périplo uma tremenda falta de respeito pelos professores e pelos alunos. Muito dificilmente o professor está bem estruturado afastado da família, muito dificilmente o professor interage com a comunidade, que é aprendente e ensinante.
O que relata e sabemos corresponder à prática, é muito difícil e desmotivante. Penso que além de se aligeirar a carga de trabalho/responsabilidade se deveria trabalhar em conjunto as técnicas de motivação e o enquadramento das matérias para fazer face a esse portento acefalizante que é a televisão – que tem muito poder de sedução, já que os alunos estão talvez mais tempo na escola que frente ao televisor; têm uma coisa em comum, genericamente falando: em ambas as situações, os jovens são meros receptores e não fautores da acção. Mobiliza-los seria mais profícuo que transmitir conteúdos a que hoje em dia se tem acesso de formas relativamente fáceis. Talvez que em vez de andarmos com reformas e alterações umas atrás das outras, em laboratórios constantes, se devesse ter a coragem para fechar a escola por uns meses para a repensar a sério, envolvendo o maior número possível de agentes educativos.
“De facto, muitos desses jovens, com altos défices de atenção e incapacidade de concentração, por vezes não querem e não colaboram, já para não dizer que perturbam a aprendizagem de outros. “
Pois é, e para não excluir os desinteressados sem que se consiga motivá-los, excluem-se da educação os interessados, a não ser que tenham pais com disponibilidade para os ensinar ou para pagar a explicadores…
“Querem agora sujeitar-nos a esta humilhação pública de sermos avaliados pelas famílias daqueles que avaliamos? Que princípio mais subversivo é este?”
A Ministra não propõe serem avaliados pelos vossos avaliados alunos, mas pelos pais, ainda que de forma “minimalista”… São entidades diferentes. Digamos que… o Governo trabalha para o Povo (?), mas é o Povo que o elege, que o avalia…mal ou bem… Coisas da Democracia… subversiva?
Há-de haver por aí, algures, um outro modelo… que eu não votei neste Governo, nem me sinto representada, embora concorde em muitas coisas com esta Ministra… que eu também não reconheço competência nalguns cidadãos para avaliar a performance de um Governo e temos igual direito ao voto… tal como não reconheço competência nalguns ministros, secretários de estado e quejandos e nalguns professores… Não tem muito a ver com esta discussão, mas assalta-me a dúvida: o Parlamento sempre vai fechar numa destas tardes em que a selecção nacional vai jogar, argumentando que mais vale terem uma manhã intensa de trabalho que um dia mal trabalhado por causa do futebol? Poderemos fechar o País nessa tarde? Ai quando o professor falta e nós não podemos ir trabalhar para ficar com o(s) filho(s)…!!! Mas claro, não sou parlamentar, não tenho nada que avaliar/comentar…
Deixo um repto: se não é possível esvaziar mais os conteúdos, tornar mais aliciante a forma de os transmitir/descobrir, façam greve indeterminada para promover melhores condições de trabalho; mas tentem envolver nessa greve o resto da população, numa solidária cruzada nacional, com bandeira e tudo, que as greves sectoriais apenas isolam.
Minha cara Senhora, apenas lhe digo que a Escola que temos tido não serve a ninguém: nem aos professores e demais profissionais, nem às famílias, nem ao País. Os resultados, nos mais diversos níveis, confirmam-no. Por mim, tive que abdicar da minha evolução profissional para colmatar as suas insuficiências. Mas os meus filhos não vivem isolados numa ilha nem numa redoma, andam na vida que todos fazemos acontecer e, como mãe sinto-me muito… falta-me a palavra!
Neste preciso momento está o pai já sem paciência com a filha mais nova, que se esquece do transporte nas contas de dividir. Descobrimos que as não sabia fazer e temos estado a ensiná-la, neste final de 4º ano, 1º ciclo, depois dos famosos “trabalhos de casa” e de um dia de trabalho, a que se seguem as lides domésticas e preparação do dia seguinte. Temos mais 3 filhos (são dois meus e dois do meu marido) e a minha filha de 17 anos diz que não quer ser mãe, que é uma grande irresponsabilidade colocar um filho neste país. Acha que é fácil?
A culpa? A culpa é de todos nós!
Permita-me um abraço solidário. Aceitemos apenas o que não conseguimos mudar. Mudemos todo o resto!
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